História de Mabel

Eu não consigo, por mais que tente. Para mim é impossível.” São frases que podemos ouvir vez ou outra e que, em essência, não traduzem a verdade. Não há obstáculos intransponíveis ou insuperáveis ao ser humano que verdadeiramente em sua alma anseie por vencê-los.

Trago à memória espiritual Mabel Hubbard, que aos quatro anos de idade, teve insuperável e incendioso ataque de escarlatina e se tornou apática e calada. Alguns anos depois, a criança reclamou: “Por que os pássaros não cantam? Por que as flores não falam comigo?” As perguntas transformaram o coração dos pais que só então perceberam que a enfermidade deixara sua filha completamente surda. Mas ela tinha uma vantagem sob as demais crianças que nasciam surdas: Ela sabia falar. Como preservar isso era o grande desafio para seus pais.
O diretor de uma escola lhes disse que eles poderiam preservar a fala da filha, desde que a obrigassem a falar sempre, que jamais aceitassem gestos. Que eles a ensinassem pela vibração. Fizessem-na sentir a garganta, o ronronar do gato, o piano e ler os movimentos dos lábios. Assim foi, embora fosse doloroso por vezes não dar à criança o leite que apontava insistente, não até ela pedir: “quero leite” ou então fingir que não viam seus gestos desesperados para ir passear, até que ela falasse: “quero ir passear, quero sair.”  Quatro anos depois, Mabel estava adaptada em todos os aspectos à vida normal. A professora que ensinava as outras irmãs a ela também o fez. Ela aprendeu a ler, escrever, soletrar. A outra batalha a superar era continuidade para prosseguir os estudos, pois ela era uma criança surda.
Um dos funcionários da escola regular afirmou que a recuperação da fala pela criança surda custava mais caro do que compensaria ouvi-la falar, e mesmo que Mabel dissesse algumas palavras, por maior que fosse o êxito atingido na articulação, a sua inteligência continuaria sempre nas trevas.
Mabel derrubou todas as afirmativas demonstrando seus conhecimentos de história, geografia, matemática, respondendo às questões formuladas e lendo de forma excelente. Não se intimidou a menina. Ela fora criada na família com muitos parentes. Estava acostumada a viver com muita gente.
Ao lhe perguntarem se era surda, ela olha para sua professora e intrigada, indagou: “Senhorita, o que é uma criança surda?”
Essa criança se tornou mais tarde esposa de um homem que desde a meninice vivia às voltas com o som: Graham Bell. 
Era alegre, espirituosa, imensamente cativante. Durante 50 anos ela amparou e inspirou seu brilhante e excêntrico marido, o grande inventor.


A capacidade do espírito humano de sobrepor-se às adversidades e vencer limitações está muito além do que possa você imaginar?
Quem comanda o corpo é o espírito e se este colocar em ação sua férrea vontade superará obstáculos considerados impossíveis.
Não digas “não consigo”. Recorde Mabel na vontade e prossiga, prossiga; se você não puder, todavia, ser Mabel, sê você mesmo, que ouve os pássaros a cantar, e quiçá Jesus permitir, ouvir também os anjos de Deus a te falar... Se fizeres isto terás, de todas as conquistas que já conseguistes, conquistado a maior de todas: a tua conquista individual.
 Receba meu carinhoso abraço,
Sabrina 

Conduta ética


J.G.PASCALE
A evolução espiritual processa-se, necessariamente, no campo moral – pelo menos é o que podemos depreender da Ética Espírita –; não decorre, portanto do conhecimento cientifico nem da maestria intelectual, embora esses predicados possam facilitar o aprendizado moral.
Talvez, entre todos os exercícios morais, o mais difícil seja o de perdoarmos aos nossos devedores. “Você me paga...”, clama o instinto de vingança. Contraditoriamente, no entanto, na oração que nos foi ensinada por Jesus, dizemos: “Perdoais as nossas dividas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.
A cada dia, à medida que prejudicamos o nosso semelhante – seja um parente, um amigo ou um estranho –, com atos, palavras ou, mesmo, em pensamentos, cometemos infrações às Leis de Deus; são débitos que acumulamos, os quais deveremos saldar cedo ou tarde. Também os outros, claro, praticam atos ilícitos contra nós e contraem dividas perante Deus. Então, em nossas preces, pedimos o perdão de nossos erros, confiando na misericórdia divina – e esperamos a remissão de nossas ofensas; porém, como fica a parte em que prometemos, igualmente, perdoar aos que nos ofenderam? A quem estamos enganando?
Encaremos o problema de frente: ainda não conseguimos erradicar do nosso coração o ressentimento, o rancor e o ódio. Onde está o amor? A verdade é que precisamos diminuir a distância entre as nossas boas intenções – que explicitamos com belas palavras, faladas ou escritas – e os nossos atos, não só por uma questão de coerência, mas principalmente porque a nossa infraestrutura moral tem por base a nossa consciência, que é onde estão escritas as Leis de Deus, conforme O Livro dos Espíritos de Allan Kardec, questão 621.

J.G. PASCALE é Filósofo, Palestrante Espírita e jornalista, ex- editor responsável do Jornal Espírita, Quando da LAKE e agora órgão da Federação Espírita do Estado de São Paulo
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