No Trato com os Sofredores

Espírito Efigênio S. Vítor
Psicofonia Chico Xavier

Reunião da noite de 20 de setembro de 1956.
Para reconforto da nossa equipe de trabalho, quem compareceu no horário dedicado às instruções foi o nosso amigo espiritual Efigênio S. Vitor, que prelecionou, com felicidade e segurança, quanto ao impositivo da fraternidade cristã, no trato com os Espíritos sofredores.

Nossos modestos apontamentos desta noite objetivam acordar-nos a atenção para a responsabilidade no trato com os desencarnados sofredores, transviados em treva e perturbação.
É imprescindível aplicar a psicologia cristã em todas as fases do intercâmbio.
Em várias circunstâncias, essas entidades jazem extremamente ligadas aos nossos corações.
O obsessor muita vez será o companheiro enternecidamente querido à nossa alma e que se nos distanciou do caminho. Será um pai muito amado que nos partilhou a luta em passado próximo... Será uma criatura jungida a nós outros, através de vínculos preciosos que o pretérito nos restitui...
A amnésia temporária, que nos é imposta durante a reencarnação, à maneira de supremo recurso da Lei Divina para acomodar-nos a mente enfermiça à extirpação dos males profundos que nos atormentam a alma, não nos exime da cortesia e do respeito para com os seres que nos compartilham a sorte.
Daí procede o imperativo de muito carinho, prudência e ponderação na abordagem das mentes desequilibradas que nos visitam.
A sessão mediúnica para socorro a desencarnados padecentes pode ser comparada a uma clínica psiquiátrica, funcionando em nome da bondade de Nosso Senhor Jesus - Cristo.
O doutrinador ou os doutrinadores são médicos e enfermeiros com obrigações muito graves para com os necessitados e pacientes que os procuram.
Não podemos esquecer que o desencarnado dessa condição, transportando imensos conflitos em si próprio, é assim como pilha ressecada, com perda quase absoluta de potência elétrica, acolhendo-se numa pilha nova, carregada de energia – o médium a que se ajusta -, fazendo retinir a campainha das manifestações sensoriais, de modo a reequilibrar-se com a eficiência possível.
O médico sensato, frente ao enfermo que lhe pede auxílio, decerto não entrará em pormenorizadas indagações quanto a deslizes que terá ele cometido, por infortúnio da própria situação.
Não usará franqueza destrutiva.
Saberá dosar a verdade, veiculando-a através da água viva do amor, suscetível de regenerar os tecidos lesados por moléstias indefiníveis.
Invocará a essência do socorro divino, que palpita em toda a Natureza, estimulando-lhe, assim, a confiança.
Situá-lo-á no otimismo, na alegria e na esperança, a fim de que o poder curativo do Criador em cada célula viva possa entrar em ação.
E o doutrinador, na assembléia mediúnica, é um agente da mesma espécie, atendendo a uma dupla de pacientes, que, no caso, vem a ser o desencarnado doente e o médium que o abriga, pois que qualquer golpe vibrado sobre a entidade comunicante percutirá, de modo imediato, sobre a organização perispirítica do instrumento em serviço.
É por essa razão que, muitas vezes, se o doutrinador não se precata contra semelhantes perigos, o medianeiro humano, não obstante amparado por benfeitores responsáveis, costuma retirar-se da tarefa assistencial predisposto a perturbações orgânicas, porquanto, entre a organização medianímica que auxilia e o doutrinador que esclarece, se entrosam elos sutis de força, em torno do necessitado que está recolhendo o recurso de que precisa, a fim de refazer-se.
O desencarnado sofredor, no momento em que se comunica, permanece, dessa forma, temporariamente, quase que na posição de um filho espiritual das forças conjugadas do doutrinador e do médium.
Eis aí a razão por que devemos prezar com mais veemência a responsabilidade nos serviços desse teor.
Fazem-se indispensáveis a serenidade e a tolerância. E em qualquer fase mais complexa do esforço protecionista recordemos a oportunidade da prece como medicação inadiável para que a bênção de Mais Alto se registre na obra de solidariedade cristã que nos propomos efetuar.
Não nos esqueçamos, assim, de que na comunhão com as mentes torturadas, já libertas do vaso físico, é imprescindível aprendamos, com Jesus, a servir com paciência e carinho, para que a nossa máquina de trabalho não se resseque, por falta de combustível da humildade e do amor.




Reunião de Desobsessão

Essa reunião é privativa e visa a auxiliar a desencarnados e encarnados em processo de reajusto e à defesa do Centro Espírita contra as investidas de espíritos avessos a Doutrina Espírita.
"Cada templo espírita deve e precisa possuir a sua equipe de servidores da desobsessão quando não seja destinada a socorrer as vítimas da desorientação espiritual que lhe rondam as portas para defesa e conservação de se mesma (...)". Com base nesta afirmativa do Espírito de André Luiz, no intróito da obra "Desobsessão", psicografia pelos médiuns Francisco Cândido Xavier e Waldo Vieira,e nas instruções dadas por ele neste livro para realização das reuniões privativas ( sem público) destinas à desobsessão, elas deveram ser assim processadas:
1- COMPOSIÇÃO DA MESA DIRETORA DOS TRABALHOS
Os componentes da reunião, que nunca excederam ao número de quatorze, assumirão funções específicas. Num grupo de até 14 integrantes, por exemplo, trabalharam 2 a 4  esclarecedores incluindo-se o próprio dirigente da reunião, 2 a 4 médiuns passistas e 2 a 3 médiuns psicofônicos.
2- PREPARAÇÃO DO AMBIENTE ESPIRITUAL
(Tempo aproximado em minutos)
Os livros para leitura preparatória no grupo serão, de preferência:
a.  "O Evangelho segundo o Espiritismo";
b.  "O Livro dos Espíritos";
c.  uma obra subsidiária que comente os ensinamentos
do Cristo à nos dar Doutrina Espírita: "Pão Nosso", "Vinha de Luz", "Fonte Viva", "Palavras de Vida Eterna" etc.
Nota: A leitura, que não ultrapassará 15 min, constituir-se-á, preferentemente, de um item "O Livro dos Espíritos" e de um trecho de um dos livros de comentários evangélicos. O dirigente, antes da prece inicial, diminuirá o grau de luminosidade do ambiente.
3-PRECE INICIAL
A prece inicial obedecerá à concisão e à simplicidade e será proferida pelo dirigente da reunião ou por quem este indicar.
4- DESENVOLVIMENTO DOS TRABALHOS
a.  Manifestação inicial do mentor. Feita a oração inicial o dirigente e a equipe mediúnica esperaram que o mentor do grupo se manifeste pelo  médium psicofônico.
b.  Manifestações dos enfermos espirituais.
Observação: A palestra reeducativa com cada desencarnado em desequilíbrio, ressalvadas as situações excepcionais, não perdurará, assim, além de dez minutos.
c.  Radiações. O diretor do grupo, terminadas as tarefas de desobsessões, rogará aos companheiros reunidos vibrações de amor e tranqüilidade para os que sofrem. Um dos componentes da equipe nomeado pelo dirigente poderá articular uma prece em voz alta, lembrando na oração os enfermos espirituais que se comunicaram, os desencarnados que participaram silenciosamente da reunião, os doentes nos hospitais, os irmãos carentes de socorro e alivio, internados em casas assistenciais e instituições congêneres.
d.  Passes. Os médiuns passistas, deslocando-se de seus lugares logo que o conjunto entre em silêncio necessário às radiações atenderão aos passes, ministrando-os a todos os componentes do grupo, sejam  médiuns ou não. Os que vão receber os passes não precisão mudar de posição.
e.  Manifestação final do mentor. O dirigente da reunião aguardará a manifestação do orientador espiritual da reunião ou de algum instrutor desencarnado que deseje transmitir aviso ou anotação edificante para  estudo e meditação do agrupamento. Na hipótese de se verificar que o orientador desencarnado não deseja trazer nenhum aviso ou instrução, o dirigente fará a prece final.
5- PRECE FINAL
A prece final obedecerá à concisão e à simplicidade e  será proferida pelo dirigente da reunião ou por quem este indicar.
6- ENCERRAMENTO
Terminada a prece final, o dirigente, com uma frase breve, dará a reunião por encerrada e fará no recinto a luz plena.
IMPORTANTE: Vale esclarecer que a reunião pode terminar antes do prazo de duas horas, a contar da prece inicial, evitando-se, no entanto, exceder esse limite de tempo.
7- RECOMENDAÇÕES
a.  "Abster-se da realização de sessões públicas para assistência a desencarnados sofredores, de vez que semelhante procedimento é falta de caridade para com os próprios Espíritos socorridos, que sentem, torturados, o comentário crescente e mal são em torno de seu próprio infortúnio"
b.  "evitar, quanto possível, sessões sistematizadas de desobsessão, sem a presença de dirigentes que reunam, em si, moral evangélica e suficientemente conhecimento doutrinário"
c.  pontualidade é sempre dever, mas na desobsessão assume caráter solene;
d.  a desobsessão deve ser praticada no templo espírita, ao invés de ambientes outros, de caráter particular. No templo espírita, os instrutores desencarnados conseguem localizar recursos avançados do plano espiritual para o socorro a obsidiados e obsessores;
e.  os integrantes da equipe precisam cultivar atitude mental digna, desde cedo, principalmente no dia marcado para as tarefas de desobsessão;
f.   a alimentação, durante as horas que precedem o serviço de intercâmbio espiritual, será leve;
g.  após o trabalho, seja ele profissional ou doméstico, braçal ou mental, faça o seareiro da desobsessão o horário possível de refazimento do corpo e da alma;
h.  pelo menos durante alguns minutos horas antes dos trabalhos, seja qual for a posição que ocupe no conjunto, dedique-se o companheiro de serviço à prece e à meditação;
i.   na chegada de enfermos e obsidiados, sem aviso prévio, sejam adultos ou crianças, o doente e os componentes podem ser admitidos, por momentos rápidos, na fase preparatória dos serviços programados, recebendo passes e orientação. Findo o socorro breve, retirar-se-ão do recinto;
j.   manter registro dos nomes e respectivos endereços dos assistidos;
k.  é desaconselhável a manifestação simultânea de duas ou mais entidades carentes de auxílio. Caso isso se verifique, o dirigente alertará os médiuns no sentido de contê-las;
l.   só se permitirá passividade, no máximo, quatro vezes por reunião a cada médium;
m. deverá ser evitado que os manifestantes doentes subvertam a ordem com pancadas (batimentos de mãos e pés), ou outras manifestações ruidosas;
n.  não é necessário a presença do obsidiado na reunião de desobsessão (salvo orientaçao do Mentor) para receber auxilio dos benfeitores espirituais;
o.  em nenhuma circunstância, o dirigente garantirá a cura ou marcará prazo para o restabelecimento completo dos doentes, em particular dos obsidiados, sob pena de cometer leviandade;
p.  quando a equipe dedicada à desobsessão for chamada ao contato de determinado enfermo, retido no próprio lar ou hospital, e havendo possibilidades para isso, indiscutivelmente a visita deverá ser feita, porem o grupo deve fazer-se representar por uma comissão de companheiros junto ao doente. Essa comissão deverá recolher o nome e o endereço do irmão necessitado, abstendo-se da ação mediúnica diante dele, no que tange a doutrinação e ao socorro aos desencarnados sofredores, reservando-se semelhante tarefa para o recinto dedicado a esta mister;
q.  os  esclarecedores deverão ser preparados, devidamente, para substituir o dirigente da reunião nos seus impedimentos;
r.   o dirigente deve:
i.   "falar aos comunicantes perturbadores e infelizes, com dignidade e carinho, entre a energia e a doçura, detendo-se exclusivamente no caso em pauta"
ii.  "em oportunidade alguma, polemizar, condenar ou ironizar, no contato com os irmãos infelizes da Espiritualidade"
iii. "oferecer a intimidade fraterna aos comunicantes, aplicando o carinho da palavra e o fervor da prece, na execução da enfermagem moral que lhes é necessária"
iv. "suprir indagações no trato com as entidades infortunadas, nem sempre em dia com a própria memória, como acontece a qualquer doente grave encarnado"

 Federação Espírita do Estado de Sergipe



Palestra Educativa

Na  noite de 16 de fevereiro de 1956, fomos felicitados com a visita do nosso amigo    espiritual, P.Comanducci, que foi médium extremamente devotado à causa do bem, cuja  palavra   passou a enfeixar a palestra educativa, aqui expressa:



Se há entidades desencarnadas que obsidiam criaturas humanas, temos criaturas humanas que vampirizam as entidades desencarnadas.
Isso é extremamente sabido.
Morando hoje, porém, no mundo dos Espíritos, em verdade não sei onde é maior a percentagem daquelas mentes que se consagram a semelhantes explorações.
Se da Terra para o além-túmulo, se do além-túmulo para a Terra...
Daí a necessidade do mais amplo cuidado nas instituições espírita-cristãs, em nossas lutas no intercâmbio.
Temos por diretriz clara e simples a Codificação do Missionário excelso que no século passado se entregou de alma e corpo à exumação dos princípios evangélicos, para trazer-nos, em nome do Cristo, a edificação de nossa fé.
Ainda assim, somos largamente tentados a favorecer a movimentação descendente do serviço que devemos à Humanidade, de vez que o menor esforço é uma espécie de “tiririca” no campo doutrinário em que fomos situados para aprender e servir.
Em plena fase de nossa iniciação no conhecimento espírita, habitualmente tomamos contacto com amigos desencarnados, detentores de conhecimento menos elevado que o nosso, a se nos ajustarem ao modo de ser e de viver, através dos fios da afetividade nem sempre bem conduzida, e, de imediato, somos induzidos aos problemas do favor.
Dificuldades morais cristalizam-se, obscuras, porque, se há desencarnados com vocação da sanguessuga, há muitos companheiros na carne com a inquietação da “chupeta”.
E ao invés do trabalho de recuperação de nossos próprios destinos, muitas vezes somos vítimas das próprias distrações, criando desajustes que, hoje aparentemente inofensivos, nos aguardam, amanhã, à feição de grandes desequilíbrios.
É necessário intensificar em nossas casas de ação um vasto trabalho de estudo e discernimento, para que a embarcação de nosso ideal não permaneça à matraca sobre as águas traiçoeiras da preguiça e da mistificação.
Não encontramos nos livros do Codificador qualquer conselho a determinados tipos de requisições ao mundo espiritual.
Não vemos Allan Kardec organizando reuniões ou círculos de prece para atender a comezinhas questões da luta humana, questões essas que exprimem lições indispensáveis à consolidação de nossa fé operosa e construtiva.
Não encontramos no Evangelho, fonte máter do Espiritismo, em suas linhas essenciais, qualquer atitude do Cristo que assegure imunidades à magia da delinqüência.
Decerto, observamos o Senhor cercado por doentes que reclamavam alívio...
Vemo-lo, seguido de mães sofredoras, de crianças sem lar, de velhos sem esperança, de mutilados sem rumo, suplicando luz e coragem, amparo e esclarecimento, de modo a superarem mazelas e fraquezas, e reparamo-lo distribuindo o remédio, o socorro moral, a consolação e a bênção, a frase compassiva e o socorro de amor...
Entretanto, nunca vimos o Excelso Benfeitor, junto de romanos influentes, cogitar de propinas materiais a benefício dos aprendizes da Boa-Nova, não observamos a fé procurando impetrar o apoio celeste para matrimônios de força, para diminuir querelas na justiça humana, nem para a solução de quaisquer assuntos de natureza inferior, que, atinentes à experiência carnal, servem simplesmente como recursos de aprendizado, no campo de provas em que somos naturalmente localizados na Terra, para a consumação de nosso resgate ou para a elevação de nossas experiências.
Eis a razão pela qual, na posição de médium desencarnado que agora somos, podemos assegurar-vos que qualquer displicência da nossa parte, no assunto em lide; gera problemas muito difíceis para a nossa vida no Além, porquanto, se determinadas soluções reclamam amor, exigem também fortaleza de ânimo, para atingirem o desejável remate, com a dignidade precisa.
Não podemos escorraçar os que rogam obséquios do Além, em muitas ocasiões com vistas à criminalidade, mas não será lícito contemporizar com o intuito perverso que, muitas vezes, lhes dita os impulsos.
Indiscutivelmente, não podemos abraçar a tolerância com o mal, mas não será justo fugir à paciência, em benefício das vítimas dele, para que o espinheiro das trevas seja extirpado da região de serviço em que o Senhor nos localiza.
Muitos daqueles que hoje indagam pela possibilidade de cooperação inferior, amanhã podem solicitar o concurso genuíno do Céu.
Daí a nossa condição de hífens da caridade entre desencarnados menos esclarecidos e amigos humanos menos avisados, e, daí, o imperativo de muita serenidade, com o Evangelho do Senhor a reger a existência, para que não venhamos a escorregar no desfiladeiro da sombra.
É necessário estender mãos abertas e fraternais aos infelizes que se fazem vitimas da ignorância e da má-fé, contudo é indispensável que nosso coração não se imante aos propósitos menos dignos de que são portadores, a fim de que estejamos, no Espiritismo e na Mediunidade, atentos aos nobres deveres que nos prendem aos compromissos assumidos.
Na vida espiritual, encontrei muitos obstáculos que até hoje ainda não consegui de todo liquidar, em razão de minha imprevidência no trato com os interesses da alma. .
É por isso que, ao nos comunicarmos convosco, nesta noite, solicitai a todos os companheiros, presentes e ausentes, cautela contra o menor esforço, o terrível escalracho que nos ameaça a esfera de manifestações. É por esse motivo que vos pedimos estudo e boa-vontade.
Não nos reportamos, no entanto, simplesmente ao ato de ler.
Leitura só por si, na alimentação da alma, equivale a simples ingestão de alimentos na sustentação do corpo.
Imprescindíveis se fazem a meditação e a aplicação do conhecimento superior para o acrisolamento do espírito, tanto quanto são necessárias a digestão e a assimilação dos valores ingeridos para a saúde e a robustez do veículo carnal de que nos utilizamos na Terra.
A alma necessita incorporar a si mesma os recursos que lhe são administrados pela Providência Divina, através das divinas instruções que fluem do Evangelho, que se derrama da Codificação Kardequiana e que vertem das mensagens de elevado teor, para que esteja realmente em dia com as obrigações que lhe cabem no mundo.
Procuremos, assim, a nossa posição de aprendizes fiéis ao Cristo e de trabalhadores leais da nossa Causa, porque, segundo as facilidades do intercâmbio, estabelecidas em nossos templos de caridade e de fé, ou faremos do Espiritismo um oráculo tendencioso e tumultuário, para a satisfação de baixos caprichos humanos, ou convertê-lo-emos no grande santuário de nossa ascensão para a Divina Imortalidade, através da sublimação de nossa vida.

Espírito P. Comanducci

     Psicofonia por Chico Xavier

Lenda da Estrela Divina

Reunião da noite de 5 de julho de 1956.
Para surpresa nossa, quem nos brindou com a sua visita, ao final de nossas tarefas, foi o Irmão X, que pela primeira vez falou em nosso recinto, insuflando-nos vigorosa emoção.



De passagem por nosso templo, trago-vos à meditação um apólogo simples.
Convencido de que somente através do próprio trabalho conseguiria entesourar as bênçãos de seu Divino Criador, o Homem compareceu diante do Altíssimo e rogou humildemente:
Pai, aspiro a conquistar a vossa grandeza infinita... Que fazer para penetrar os domínios da vossa glória?
O Todo-Compassivo louvou-lhe os propósitos e determinou:
– Desce à Terra e convive com os teus irmãos.
O Homem nasceu e renasceu, muitas vezes, adquirindo experiência em diversas nações, e voltou ao Paraíso, ostentando na fronte a auréola da Cultura.
Não contente, entretanto, pediu ao Soberano da Vida:
Pai, anseio conhecer-vos a força... Como proceder para atingir semelhante graça?
O Todo-Bondoso afagou-lhe a alma inquieta e ordenou:
– Desce à Terra e dirige os teus irmãos.
O Homem nasceu e renasceu, muitas e muitas vezes, fazendo leis e gastando fortunas, construindo fronteiras e levantando monumentos religiosos, plasmando a beneficência e disciplinando as sociedades, brandindo armas e desfraldando bandeiras, mandando e comandando, fascinado pelos poderes e pelos bens da Terra, como se os bens e os poderes da Terra lhe pertencessem, e retornou ao Lar Eterno, guardando nas mãos o cetro da Autoridade.
Não contente, todavia, suplicou ao Senhor Supremo:
– Pai, suspiro por aprender convosco a criar emoções sublimes... Como agir para entender a vossa beleza augusta?
O Todo-Sábio contemplou-o, benevolente, e aconselhou:
– Desce à Terra e procura formar pensamentos iluminados e nobres para consolo e progresso de teus irmãos.
O Homem nasceu e renasceu, muitas e muitas vezes, trabalhando a pedra e o metal, a madeira e a argila, a palavra e o som, o pincel e a rima, e retornou à Luz das Luzes, transportando nos olhos e nos ouvidos, na língua e nos dedos a magia da Arte.
Contudo, não satisfeito ainda, rojou-se aos pés do Senhor e pediu em lágrimas:
– Meu Pai, tenha saudades de vosso convívio... Não quero apartar-me de vosso olhar! Que fazer para demorar-me nos Céus?
O Todo-Misericordioso abraçou-o com ternura e ajuntou:
– Ah! meu filho, que pedes tu agora? Para, que te detenhas no Céu é necessário desças à Terra e ajudes a teus irmãos.
E o Homem nasceu e renasceu, por longos e longos séculos, sofrendo, sem reclamar, injúrias e ultrajes, lapidações e calúnias, miséria e abandono, chagas e açoites, procurando auxiliar os outros sem cogitar do auxílio a si mesmo, até que, um dia, terrìvelmente fatigado e sozinho, mas de coração alegre e consciência tranqüila, retornou aos Eternos Tabernáculos.
Não precisou, no entanto, anunciar a sua presença, porque as Portas Celestiais se lhe descerraram ditosas.
Flores inclinaram-se-lhe à passagem.
Constelações saudavam-no em regozijo.
Anjos cantavam, em surdina, celebrando-lhe o triunfo.
E o próprio Senhor, na carruagem resplendente de sua Glória, veio recebê-lo nos Pórticos Sagrados, exclamando, de braços abertos:
- Bem-aventurado sejas, filho meu!... Agora a Criação inteira é tua... Todos os meus segredos te pertencem. E, estejas onde estiveres, viveremos juntos para sempre.
Esmagado de júbilo, em riso e pranto, o Homem compreendeu, sem palavras, que a felicidade do amor puro lhe fluía sublime dos refolhos do ser, em torrentes de alegria misteriosa...
É que ele trazia, fulgente no coração, a Estrela Divina da Humildade.
Desde então, pôde habitar na Casa do Senhor por longos dias...

Irmão X