- Ai de mim, queixava-se a rosa.
- Sou a mais triste das flores; todas as flores têm cores! E eu? que infortúnio, que amargor sou a infame do céu.
Estava rosa nesse lamento, quando a joaninha, aproximando-se para saciar-se dos insetos que ali impregnavam, diz com a voz mansa e modulada:
- Rosa...não pude deixar de te ouvir...é verdade como és infeliz, até eu na minha formação refulgem cores vivas. Saltando para outra flor, retira-se a joaninha, deixando à mostra a exuberância de sua cor amarelo-vivo.
A rosa sem cor, chorava, derramava sua seiva como se fossem perdigotos de lágrimas. E, eis que a linda mariposa se acerca e lhe pergunta, enquanto esvoaçava a sua volta.
- Choras de alegria ou de tristeza?
- Ai! Exclama a rosa sem cor. – Sou muito infeliz, todas as flores possuem cores, e eu? Veja...
A mariposa estabilizou-se no ar, e seu farfalhar balançava suavemente as folhas mais delicadas.
- É verdade! Exclama a mariposa - Até eu tenho cores, será que o grande Criador te esqueceu? E retirando algumas gotículas de néctar afastou-se graciosa e velozmente da rosa sem cor.
Chorava ainda a rosa sem cor, quando um radioso e formoso arco-íris, engalanado de cores se fez visível no céu. E sua voz grave ecoa:
- Oh...rainha das flores, porque choras?
A rosa, olhando por entre as frestas das ramagens, que a cercava, replica:
- Choro porque não tenho cores.
Após breve silêncio, o arco-íris falou-lhe:
- Sai das sombras em que abrigas nesse jardim sombrio e sinta os raios. – Aproxima-te!
- Não posso! Justifica-se a rosa.- Pois, estou a tanto tempo curvada, não conseguirei aproximar-me.
O arco-íris insiste:
Ore ao Criador, talvez Ele te ouça.
- Não posso, pois já implorei, e continuo só na minha desditosa vida. Respondeu chorosa a rosa.
O arco-íris, mais veemente...exclama:
- Ore, fale com o Criador da tua tristeza, pois sei que Ele tem atendido a alguns pedidos. Vamos coragem, eu pedirei contigo.
A rosa sem cor, num esforço, vagarosamente ergue-se acima da vegetação, e abrindo o máximo de suas pétalas, exclama:
- Senhor! Mesmo sem cor, tenho servido o alimento à joaninha e fornecido néctar à mariposa, é somente isso que posso fazer e o faço obediente e fiel aos teus desejos.
Num instante divino de alguns momentos, o arco-íris, que tudo ouvia, descendo do céu em direção a rosa sem cor, aninhou-se em sua corola e abraçou-a - E, a rosa sem cor impregnou-se de todas as cores do arco-íris, causando a admiração das demais flores, que passaram a reverenciá-la como a Rainha das Flores.
E, dessa união divina nasceram às rosas de todas as cores e tons.
Ao passares por uma rosa, e a beleza de suas cores te causarem deslumbramento, olhe atentamente, pois verás que o arco-íris reside ali.
Quando te encontrares na vida sem cor, ore ao Criador, pois algum arco-íris poderá estar te ouvindo...
Espírito Oscar Wilde
Recebido por Dan