Por que
as religiões perdem qualidade, quando crescem quantativamente? O fenômeno é
relativamente fácil de explicar: é um misto de vaidade humana com a falta do
conhecimento verdadeiramente cristão. Inexpressiva do ponto de vista numérico,
qualquer religião obriga seus líderes a uma maior vigilância para que ela não
se autodestrua em sua fragilidade, além disso, a pequena quantidade de adeptos
não excita a vaidade. Quando crescem, surgem as preocupações com a
administração, arrecadação de fundos, aquisição de computadores, geralmente
faustosos, com eleições, com o poder... A disputa hierárquica se estabelece e
os "representantes" do Poder Divino aparecem. A ocupação do espaço
pela "autoridade" substitui o sentimento de simplicidade evangélica e
o orgulho pessoal se manifesta. Num mundo viciado como o nosso, os adeptos de
todas as crenças, de uma forma geral, admiram o poder, aplaudem os que
aparecem, porque também não têm consciência mais profunda do exato sentido dos
princípios trazidos por Jesus Cristo. Quanto mais vaidoso, mais inseguro é o
ser humano, necessitando do reconhecimento público, dos elogios, do comando
para se realizar em suas fraquezas. Por isso, só o tíbio e o insensato lutam
por cargos e se desesperam para mantê-los. O movimento espírita, em muitas
instituições, passa por essa fase. Chapas diversas disputam diretorias, nos
moldes deprimentes da política mundana. Há médiuns que "recebem"
mensagens induzindo a escolha, identificando os protegidos de
"Bezerra", "Emmanuel", Ismael" e, até mesmo, de
"Jesus". Querem o direito de decisão, por se sentirem "salvadores
de almas" e "enviados do alto". Há, ainda, os que invocam
encarnações passadas, para justificarem suas pretensões. Muitos desses
"messias" se consideram o retorno de Paulo, de Lutero, de Kardec
etc., numa comprovação tácita da obsessão. Deveriam lembrar-se de Bias, o
notável cidadão de Priena, ao responder aqueles que estranhavam o seu desapego
dos bens materiais e do destaque social: "Eu trago tudo dentro de
mim". Os verdadeiros líderes, que contam com o apoio de elevados
benfeitores, são aqueles que ocupam cargos sem ambicioná-los, trabalham por amor
e estudam com humildade. Não são arrogantes nem pretensiosos. Servem e passam,
distribuindo sem contar o que dão. Não ofendem os companheiros nem os
princípios imáculos da Doutrina. Eles são identificados pela nobreza do
caráter, pela permanente dedicação e pela simpatia que tipificam o equilíbrio
necessário a qualquer nível de liderança.
Revista O Espírita
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