Uma concisa cogitação a propósito do Suicídio

Conquanto não seja assunto exclusivo do psiquiatra, do psicólogo, do psicoterapeuta, reconhecemos ser penoso abordar o tema SUICIDIO sob qualquer perspectiva. Para comentá-lo, a rigor somos impelidos a consignar algumas infelizes estatísticas. A maioria dos suicídios, talvez acima de 60%, está diretamente ligada a estados depressivos, incluindo as chamadas doenças afetivas, como o transtorno bipolar. Contudo, qualquer depressão mais grave, na qual a pessoa esteja em situação de dificuldade e de falta de apoio social, pode levar ao suicídio. A prática também está bastante associada à toxicodependência.
Algumas pessoas (re)encarnam com certas desordens psiquiátricas, tal como a esquizofrenia e o alcoolismo, o que obviamente acresce o risco de autocídio. Os determinantes do autoextermínio estão nas ansiedades mentais, obsessão, subjugação, desesperanças, desgostos, intranquilidades emocionais, alucinações recorrentes. Podem estar vinculadas a falência financeira, vergonha e mácula moral, decepções amorosas, depressão, solidão, medo do futuro, empáfia pessoal (recusa em admitir o fracasso) ou acentuado amor próprio (acreditar que sua imagem não possa sofrer nenhum arranhão ou ferimento).
Os números (nada alvissareiros) apontam para um contingente de um milhão de pessoas que se suicidam anualmente, quantidade essa maior que o total de vítimas de guerras e homicídios urbanos. Como se não bastasse, o número de tentativas de suicídio é trágico, com 20 milhões de casos por ano, o que leva a ser “o suicídio a segunda causa de morte no mundo entre os adolescentes de 15 a 19 anos, mas também alcança taxas elevadas entre pessoas mais velhas”. (1)
Um drama social que tem se agravado, sobretudo sob os impactos das crises econômicas, segundo relatório da Organização Mundial de Saúde (OMS) publicado em Genebra. (2) Detalhe: há três vezes mais suicídios entre homens do que entre mulheres (exceto entre os chineses), independente das faixas de idade. Por outro lado, há três vezes mais tentativas de suicídio entre as mulheres que entre os homens. A dessemelhança entre os quantitativos é explicada pelo fato que os homens empregam métodos mais violentos que as mulheres para o autoextermínio. (3)
Há diversas linhas de investigação sobre as prováveis causas e motivos que induzem alguém a eliminar a própria vida. As causas reais sempre foram um problema para médicos, psicólogos, psiquiatras, criminalistas. Até porque a autopreservação é um dos maiores instintos humanos; logo, a “coragem” de cometer suicídio deve ser ainda mais intensa.
O que motiva essa decisão extremada? Cremos que a exata causa do suicídio não está nas ocorrências infelizes em si, todavia na atitude como a pessoa cede diante da infelicidade, do desgosto. Émile Durkheim e Sigmund Freud apresentaram algumas teses. Durkheim percebeu as causas do suicídio em fatores sociais, como por exemplo a incapacidade que uma pessoa tem de se integrar na sociedade (o indivíduo se deixa abater pelo coletivo). Freudenraizou sua explicação em impulsos instintivos, especialmente no que ele chamou de “instinto de morte”. Não obstante discordemos sobre o argumento do “instinto de morte”, pois só acreditamos no instinto de sobrevivência, reconhecemos que as pessoas que cometem suicídio carregam dentro de si denso transtorno de personalidade.
Segundo os Benfeitores espirituais, comumente o suicida tem um histórico de vida com manifesta rebeldia às leis divinas. Distúrbio íntimo que provavelmente fizesse parte do cotidiano da vida do professor Fernando Emanoel Vasquez Leonês,que se matou na sala de aula da Escola Estadual Clara Teteo em Macau, Rio Grande do Norte. No fastígio da indignação, somado às perturbações emocionais, Vasquez Leonês arremessou a culpa de sua revolta (escrita num bilhete de “despedida”) ao governo, em face da falta (atraso) de pagamento do salário. (4)
Esta semana a namorada de Mick Jagger, L’Wren Scott, famosa produtora de moda, que vestiu celebridades, incluindo Oprah Winfrey, Nicole Kidman, Michelle Obama, Madonna, Julia Roberts e Tom Hanks, foi encontrada morta (enforcada) em seu apartamento em Manhattan, nos Estados Unidos. Scott optou por não culpar ninguém e sequer deixou um bilhete de despedida. Especula-se que teria sido a pretexto de dívidas colossais.
Coincidentemente, em épocas de crise econômica, muitos empresários falidos e mutuários inadimplentes têm buscado a ponte Golden Gate, nos Estados Unidos. Essa ponte de 67 metros de altura, localizada na entrada da baía de San Francisco, tem sido ultimamente um dos locais públicos mais utilizados para suicídios no mundo, e quase todas as tentativas resultam em morte.
Em termos de suicídios no mundo, a OMS destacou que as taxas mais elevadas são a dos países do leste europeu, como Lituânia e Rússia, enquanto as mais baixas se situam na América Central e do Sul. No Brasil o número de suicídios é bem menor do que a média mundial, mas ainda assim o número não pode ser desprezado: dados do Ministério da Saúde relativos a 2002 contabilizam 7.719 suicídios nesse ano – número aparentemente alto, mas pequeno quando comparado aos “campeões”, como os Estados Unidos, onde cerca de 32 mil pessoas se suicidam por ano. Atualmente, na “Pátria do Evangelho” o suicídio começa a ser considerado um problema de saúde pública e chama atenção pelo crescimento: o número de suicidas no país passou de 4,2 para 4,9 em cada 100 mil habitantes na população de todas as idades, e de 4,4 para 5,1 a cada 100 mil jovens, entre 1998 e 2008.
É justo citar nestas reflexões o hercúleo esforço de uma das organizações não-governamentais (ONG) mais antigas do Brasil, o CVV – Centro de Valorização da Vida (5), que tem enfrentado o assunto como um problema que se pode prevenir na grande maioria das vezes, e esse é um dos maiores esforços do CVV. Acreditam seus membros que o estudo e a discussão do tema é uma das formas mais eficientes de se promover a prevenção, pois esta só é possível quando a população, os profissionais da saúde, os jornalistas e governantes têm informações suficientes para conduzir as medidas adequadas e ao seu alcance nessa frente. (6)
A principal iniciativa do CVV é o Programa de Apoio Emocional, realizado por telefone, chat, e-mail, VoIP, correspondência ou pessoalmente nos postos da instituição em todo o país. Trata-se de um serviço gratuito, oferecido por voluntários que se colocam à disposição do próximo em uma conversa de ajuda, preocupados com os sentimentos dessa pessoa amargurada. (7)
Na literatura espirita há boas obras que abordam o assunto. Temos como exemplo especialmente “O Martírio dos Suicidas”, de Almerindo Martins de Castro e “Memórias de um Suicida”, de Yvonne A. Pereira. O Codificador, no livro “O Céu e o Inferno” ou “A Justiça divina segundo o Espiritismo”, deixa enorme contribuição em exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual e, especificamente no capítulo V, da Segunda parte, onde aborda a questão dos suicidas.
Em suma, o espírita tem várias razões a se contrapor à ideia do suicídio, principalmente a confiança de uma vida futura, em que, sabe ele, será de tal maneira mais venturosa quão mais difícil e abdicada o tenha sido na Terra. Assim ensinou Jesus: “Bem-aventurados os que choram, porque serão consolados”. (8)

Jorge Hessen

 Notas e referências bibliográficas:
 (1) Disponível em http://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/2012/09/um-milhao-de-pessoas-morrem-por-suicidio-no-mundo-ao-ano-diz-oms.html acesso 15/03/2014
(2) Idem
(3) Idem
(4) Disponível em http://diariodosol.com.br/noticias/2013/12/professor-de-fisica-comete-suicidio-dentro-da-sala-de-aula-como-ato-de-protesto-ao-governo-do-estado-em-macau-rn/#.UsV1HE2hSx8.facebook acesso em 17/03/2014
(5) Associado ao Befrienders Worldwide (http://www.befrienders.org/), entidade que congrega instituições de apoio emocional e prevenção do suicídio em todo o mundo.
(6) portal http://www.cvv.org.br/
(7) Para conhecer mais sobre voluntariado, apoio emocional, prevenção do suicídio, saúde mental e outros temas afins, acesse também:www.franciscajulia.org.br, www.amigosdozippy.org.br, www.samaritans.org, www.centrovoluntariado.org.br, www.spsuicidologia.pt, www.befrienders.org,www.med.uio.no/iasp/inglês/cs.html, www.suicidologia.org/visualizarcomum.cfm?an=6, www.casp-acps.ca, www.telefonoamigo.org
(8) Mateus 5:4

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