Revista O Espírita (Maio/Agosto - recebida hoje, 19/10/2021)
Por Jorge Hessen
Antes de abordarmos o tema, cabe distinguir a simples tristeza da
depressão. A tristeza é um sentimento corriqueiro que surge ocasionalmente em
nossos corações. Mormente quando advém um acontecimento que sacode a nossa
vida, porém é provisória.
Estranhamente, hoje em dia qualquer tristeza é tratada como doença
psiquiátrica. Os pacientes preferem recorrer aos remédios a encarar os desafios
da vida. Muitos médicos se rendem aos laboratórios farmacêuticos e indicam
antidepressivos sem necessidade, exceto os psiquiatras, que são os que
menos receitam antidepressivos, porque estão mais preparados para reconhecer as
diferenças entre a “tristeza normal" e a patológica (depressão).
O que diferencia a "tristeza normal" da patológica é a
intensidade. A tristeza patológica é muito mais intensa. A normal é um estado
de espírito. Além disso, a patológica é longa. É o aperto no
peito, a dificuldade de se movimentar; a pessoa só quer ficar
deitada, tem dificuldade de cuidar de si própria, da higiene
corporal. Na "tristeza normal" pode acontecer isso por um ou dois
dias, mas depois passa. Na patológica, fica nas entranhas do ser.
Quem mais receita antidepressivos não são os psiquiatras, são os demais
médicos. Os psiquiatras têm uma formação para perceber que primeiro é preciso
ajudar a pessoa a entender o que está se passando com ela e depois, se for uma
depressão, medicar. Agora, os não psiquiatras não querem ouvir. O paciente diz:
“Estou triste.” O médico responde: “Pois não”, e receita o ansiolítico. Eis o
problema!
A depressão deriva de duradoura ansiedade íntima. É uma indiferença de
sentir o gozo pela vida, resultando em certo desgosto por viver. Essa amargura
ou vazio d’alma podem estar escoltados por ideias de morte que se manifestam de
múltiplas formas: o deprimido pode almejar morrer e até atentar contra a
própria vida, ou meramente pode não ansiar mais viver, porém não pensa em tirar
a própria vida e até receia a morte.
O processo depressivo pode variar de magnitude e é qualificado pela
psiquiatria como depressão leve, quando os sintomas não intervêm em demasia no
cotidiano, como depressão moderada quando já há um comprometimento maior
na sustentação das atividades habituais e como depressão
grave – neste estágio a pessoa torna-se bastante limitada na labuta
cotidiana.
É muito importante buscar modos de se evitar chegar nesse nível,
trabalhando-se com as causas profundas da doença, que por ser uma doença
das emoções não tem sinais físicos ou bioquímicos. Frequentemente o doente
deprimido ouve frases do tipo “você não tem nada” ou “depressão é
frescura”, às vezes pronunciadas até por clínicos, que após escutarem o
paciente requerem exames complementares que exibem resultados negativos.
Por outro lado, há aqueles médicos que se deixam levar
pelo lobby da indústria farmacêutica. Não se pode mais ficar
enfadado, apoquentado, triste, porque isso é imediatamente transformado em
depressão. É a medicalização de uma condição humana. É transformar um
sentimento normal, que todos nós temos, dependendo das situações, numa entidade
patológica. Há situações em que, se não ficarmos abatidos, pode gerar
transtornos emocionais – como quando se “perde” um ente querido. Mas muitos
médicos não compreendem racionalmente alguns sentimentos e sintomas
humaníssimos.
Muitos aflitos costumam recorrer aos tranquilizantes e se debatem
aflitivamente para que a aflição não os abarque a vida cotidiana. É comum nos
extasiarmos ante a beleza das estrelas do firmamento, em rogativas ao Criador,
a fim de que a angústia não nos abata e nem nos alcance a caminhada, ou
ainda para que os sofrimentos desviem para outros rumos.
Contudo, a realidade das provas e expiações ante os estatutos de Deus chegará
inexorável como mecanismos naturas de nossa evolução.
Ante os ventos impetuosos das chibatas emocionais, nos sentimos vencidos
e solitários. Mas em realidade, o que parece infelicidade ou derrota pode
significar intercessão providencial de Deus, sem necessidade, portanto do uso
de tranquilizantes para aliviar a dor. Em muitos momentos da existência, quando
choramos lágrimas de angústias, os Benfeitores se rejubilam de “lá”, da mesma
forma em que os pomicultores de “cá” descansam, serenos, após o labor do campo
bem podado. A vida é assim!
Essas lágrimas asfixiantes, muitas vezes representam para nós alegrias
nas dimensões superiores da vida espiritual. Evidentemente nossos protetores do
além não são indiferentes quando estamos em padecimentos atrozes, mas eles
sabem exatamente que tal situação sinaliza possibilidades renovadoras no buril
do nosso crescimento espiritual.
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