A dedicação à infância
foi um dos principais objetivos do Grupo Lauro. A Evangelização foi e tem sido
de fundamental importância uma vez que é necessário educar a criança para o
futuro. Ao longo desses anos,
a Evangelização conquistou seu papel pedagógico e doutrinário na filosofia
cristã e passou por diversas transformações, entre acertos e erros. Atualmente, a pedagogia
do Departamento Infantil está construída nas bases do bosquejo pedagógico
cristão. Conheça como começou
essa história...
Seguem abaixo trechos de uma entrevista realizada em Novembro/2005, com as evangelizadoras e ex-diretoras do Departamento Infantil, que carinhosamente são chamadas de Tia Edi e Tia Neusinha. Na época, a reportagem foi realizada pelos evangelizadores Rafael, Edna e Simone.
Departamento Infantil (DI): Tia Edi, após
inauguração do Irmão Lauro na atual sede, quanto tempo depois iniciou a
evangelização ?
Edi: Evangelização? Quantos anos tem o Irmão
Lauro?
DI: Nós sabemos são
quarenta e dois anos. Na Padre Arlindo deve ter trinta anos.
Edi: Eu calculo que comecei no
Departamento Infantil por volta de 1975.
“QUANDO EU FUI À INAUGURAÇÃO DO IRMÃO
LAURO, ERA APENAS UMA LAJE E NÓS FIZEMOS O PRIMEIRO CHÁ EMBAIXO DESSA LAJE”
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DI: Quantas crianças tinham naquela
época?
Edi: Quando eu comecei no Departamento
Infantil tinha no máximo vinte crianças.
DI: Qual era o objetivo
na época?
Edi: No começo era a alegria de evangelizar e ajudar as crianças, porque eu
sempre dizia para todos que mesmo que elas não escutassem a semente vai
seguir com eles. No começo éramos um pouco criticados, as crianças que iam ao
Irmão Lauro jogavam pedra e matavam passarinhos. Ninguém aprende nada num dia,
é devagarzinho, né? O dia que eles aprenderem a semente vai ficar. O dia que
eles precisarem de alguma coisa eles vão lembrar.
Eu vou contar uma
passagem rápida para vocês: uma vez teve uma mãe que veio falar comigo, “o meu
filho vem estudar aqui há tanto tempo e até hoje vocês não mandaram um caderno
e um lápis para ele”. Na verdade ela achou que o menino estava estudando em um
grupo escolar, entendeu? Eu expliquei para ela
o que nós fazíamos, mostrei a evangelização. Ela não sabia o que fazíamos, ela
mandava, mas na verdade os pais não sabiam. Os pais não iam as reuniões.
DI: O que a evangelização
contribui para as senhoras?
Edi: Contribui no meu crescimento, eu
aprendi muito com as crianças, porque, além de ter estudar para passar para
elas, elas passaram muitas coisas para mim. Eu aprendi realmente muitas coisas
da parte espiritual, porque eu só tinha a prática como professora.
Neuzinha: Eu também, a evangelização ensinou-me
e educou-me, aprendi a ser mais gente, aprendi a amar. Eu não evangelizava, as
crianças me evangelizam.
DI: Qual foi a
experiência que as senhoras angariaram pessoalmente?
Edi: Pessoalmente eu angariei para o meu
futuro, eu aprendi com as crianças, que, além de tudo, tem um espírito que é
muito importante para min. Tudo acrescentava para o meu futuro, a partir
daquela data eu estava criando uma nova vida, estava aprendendo com as crianças
que a parte espiritual é mais importante com a parte material, isso ficou para
o resto da minha vida.
Neuzinha: Foi o meu crescimento espiritual,
porque sempre acreditei no espírito eterno e a criança tem um espírito que traz
conhecimentos e nós adultos somos privilegiados por trabalhar com elas.
DI: Na época que as
senhoras evangelizavam houve um fato marcante para as duas?
Edi: Quando eu evangelizava, eu estava
com os pequenos e uma vez uma criança chegou e disse: “tia eu trouxe um
presente para você”. Ele me deu um vidrinho e quando olhei havia um
mosquitinho. É um mosquitinho que tem no vidro? Perguntei: “Tia esse é um mosquito
da minha coleção, que estou dando pra você”. Eu me emocionei muito com aquilo e
guardo até hoje. Eu nunca esqueci.
Neuzinha: Eu tenho duas histórias que marcaram muito na evangelização. Uma foi um
catatau que chegou acompanhado da mãe com um pacotinho nas mãos. “A senhora
aceita?” Dentro do pacotinho havia um dentinho. Ela tirou o primeiro dentinho e
deu para mim. Mostrei o dente para a tia Edi e ela me disse: “Filha, essa
criança gosta muito de você”. Eu guardo até hoje, fiz um pingente com ele.
A outra foi o Celso,
ele tinha onze anos e estava com câncer no intestino. Esse menino era muito
dedicado a mim, tínhamos uma afinidade espiritual muito grande, chegou o dia da
sua última dor, ele me abraçou e disse que estava com dor. Esse foi o último
abraço que eu recebi do Celso, eu tinha certeza que ele está bem no plano
espiritual.
DI: Na época que as
senhoras evangelizavam o mundo estava diferente, hoje as crianças têm internet,
celular, estão sabendo de tudo o que acontece, o mundo está globalizado. Diante
disso, a evangelização contínua igual ou sofreu atualização?
Edi: Eu só tenho a experiência na
evangelização de anos atrás, o que eu colocar hoje não seria válido porque eu
não estou evangelizando. Eu acredito que os espíritos das crianças ainda
aceitem histórias. Falando agora como professora, a criança grava. Vocês têm
mais experiência nos dias de hoje do que eu, mas não têm a experiência do
passado que eu tive e eu não tenho a experiência do presente de vocês.
Neuzinha: Eu ainda continuo sendo evangelizadora,
eu ainda continuo com aquele trabalho de contar histórias, damos um conceito
baseado numa história. Eu trabalho a história e trago os ensinamentos do
evangelho de Jesus sobre ela. Exemplo: uma criança que não come isso ou que não
faz aquilo, eu conto a história e ponho para a criança o respeito, o amor, a
gratidão, entendeu? Como você disse, o meio de comunicação está trazendo muitas
coisas para as crianças, mas também traz coisas ruins para o espírito. Não
adianta ficarmos no meio daquela comunidade, isso é um desenvolvimento, um
crescimento do homem, mas muitas coisas desenvolvidas de forma errada, porque a
criança hoje fica muito voltada na imagem, eles gravam dentro deles, não
gravam? Nós temos que tomar muito cuidado com o meio de comunicação, meio da
imagem, porque talvez o nosso mundo esteja assim devido isso, o pai hoje não
tem tempo para o filho e fica ali, buscando e somando, porque é captador de
todas as coisas.
DI: Como
começou a evangelização no Grupo Lauro, quantas pessoas tinham na época, quais
os evangelizadores que iam?
Edi: Os evangelizadores eram o Arnaldo, a
Íris, a Josefina, que está no plano espiritual, éramos os quatro que
trabalhávamos. Naquela época nos preocupávamos com a parte educativa, porque as
crianças não tinham nenhuma formação, elas não sabiam ainda que era uma coisa
espiritual, elas eram muito carentes do espírito e também do corpo, eram
carentes de pão. Nós fazíamos de tudo por elas. Ninguém achava que estivéssemos
fazendo grande coisa. No começo nós ensinávamos a doutrina, a moral e tudo. Mas
houve uma vez que uma das crianças matou um passarinho e então todos disseram
do que valia essa evangelização.
DI: Isso aconteceu
dentro do Grupo tia?
Edi: Não, na casa dele. Ele matou o
passarinho e contou na escolinha que o tinha matado. Isso valeu para uma porção
de pessoas que não eram a favor, porque é lógico, as
crianças destroem as coisas e tudo. Então eles criticaram dizendo que a
evangelização não levaria a nada. Pois eu disse: acredito que a semente que nós
estamos plantando vai crescer e o dia que eles tiverem um problema eles vão
lembrar de umas palavras que nós deixamos no coração deles.
DI: Essa dificuldade de
evangelizar era dentro do Grupo?
Edi: Já era dentro do Grupo, porque havia
irmãos nossos que não acreditavam na evangelização, as crianças eram rebeldes,
eram muito rebeldes, naquela época não tinha sacolinha de natal, entendeu...
nós estávamos começando mesmo, era só uma coisa de amor, mas foi crescendo,
crescendo bem devagar e os pais não participavam.
DI: As crianças eram da
comunidade mesmo?
Edi: Eram só crianças do Pq. Bristol, mas
valeu a pena. Hoje eu olho para trás e digo valeu a pena.
DI: Essa pergunta que
farei, eu gostaria que as senhoras respondessem com o coração. Qual a
importância que o Grupo Lauro teve e tem para vocês?
Edi: O Grupo Lauro teve e tem, vou pôr no
presente também e terá, já vou pôr no futuro. Quando qualquer coisa, em
qualquer momento que eu me lembrar que uma criança precisa de ajuda, eu penso
no Irmão Lauro. Ele foi o início para mim, onde eu iniciei na doutrina, comecei
a estudar no Irmão Lauro, porque para eu evangelizar eu me dediquei mais, foi
um momento muito oportuno da minha vida. Eu estava com muitas dificuldades de
saúde e foi onde encontrei grandes amigos. O Irmão Lauro sempre será para mim a
casa onde eu aprendi muito.
Neuzinha: Na verdade eu não ia para o Irmão
Lauro eu frequentava outro lugar. Meu vizinho falou do Grupo e eu fui. Foi lá
que eu conheci a Edi (carinhosamente Neuzinha chamada de mãe) conheci uma outra
família, sempre me dediquei bastante e sempre que posso quero estar lá, mesmo
na minha rebeldia. A minha vida são as crianças, são elas que me fortalecem,
não são os trabalhos que eu faço no Lauro, é a criança. Eu não estou
evangelizando, mas as crianças estão eternamente no meu coração.
DI: De tudo que as
senhoras viveram na Evangelização, de todas as experiências que tiveram, o que
podem falar para o pessoal que está começando?
Edi: Em primeiro lugar acreditem no que
vocês estão fazendo com amor e estão fazendo com o coração. As dificuldades
existem e são as alavancas que levam ao trabalho. Eu vou contar para vocês uma
história bem pequenininha: havia uns sapinhos que queriam subir a montanha,
quando eles começaram a subir outros que estavam lá no alto da montanha
gritavam: Vocês não vão subir, não vão conseguir e alguns desistiram. Quase
chegando no topo, novamente eles ouviram: Não adianta, vocês não conseguem e
então desistiram. Mas um único sapinho continuou e chegou ao topo. Vendo isso
os que gritavam perguntaram: Como conseguiu? E ele fez um sinal, era surdo.
Esse sapinho não ouviu nada dos negativos que os outros que não acreditaram
voltaram. É que o que eu digo para os evangelizadores que já trabalharam e
chegaram a uma certa idade e não têm condições, por qualquer motivo, de
continuar: deixe os lugares para os mais jovens, e para os mais jovens é
importante acreditar no que vão fazer e ter muito amor, fechando os ouvidos
para o que os outros dizem, porque as dificuldades existem e que os outros vão
querer desanimá-los. Não desanimem, sigam em frente.
Neusinha: Não adianta dizer que vão mudar de
casa, eu vou ali ou vou lá, porque todo o lugar tem dificuldades. A dificuldade
nos faz crescer e para isso temos que enfrentar a dificuldade; é como uma pedra
no caminho, damos um chute e seguimos em frente. Não dê ouvido a ninguém,
porque nada é fácil, mas vale a pena deixar o caminho que você escolheu. Quero
deixar aos evangelizadores esta no caminho que fiz: “Criança é como uma rosa,
quando todas as pétalas estão juntas, essa rosa é sempre bem vinda para
enfeitar, alegrar e colorir, mas quando as pétalas se separam não têm
utilidade, junte e regue todas as pétalas de sua criança e a transforme numa
grande e linda rosa”.
DI: Houve um momento
difícil da evangelização em que a senhora pensou em desistir?
Edi: Não houve esse momento, eu só
deixei de ir no momento em que de fato comecei a perder a visão e não pude ir
mais. O momento mais difícil foi em que tive que assumir, tive que falar alto e
não vou falar o nome da pessoa disse: “Vocês não fazem nada no Departamento
Infantil, vocês estão aqui perdendo seu tempo, porque essas crianças não
aproveitam nada”. Foi um momento muito difícil, em que eu disse agora temos que
ficar, temos que mostrar que somos capazes. Foi difícil porque foi dito em uma
reunião de diretoria, na frente de todos, eu não fui poupada na frente dos meus
outros irmãos.
Eu quero agradecer ao
Irmão Lauro a oportunidade que nos deu, a você Simone que me deu a oportunidade
de ter você junto, a todas as crianças, porque todos nós trabalhamos juntos,
nós éramos uma só família e vamos lutar e cantar, inventar música... foi muito
bom, foi uma parte da minha vida
maravilhosa. Eu não esqueço e se hoje eu seguro esse problema que eu estou
levando eu devo ás crianças que me seguraram, ao Irmão Lauro que me deu força,
a Jesus acima de tudo e eu quero continuar, o que vocês precisarem de mim podem
contar.
Eu quero lembrar uma
pessoa do infantil que aproveitou e foi preparada, a Maria José. Começou pequenininha
conosco, ela teve a primeira crise de diabete quando ela estava no Departamento
Infantil, peguei ela com 10 anos, são coisas que você vai olhando pelo caminho
e você fala: quanta gente aproveitou esse Departamento Infantil- e vocês vão
dizer: quantas daqui para frente vão aproveitar. Vocês agora estão preparando o
futuro, depende de vocês, o que dependeu de mim eu fiz com muito amor e eu
tenho certeza, tenho fé em vocês que vão vencer e vão produzir muito mais do
que eu.
DI: A evangelização é
uma das bases de sustentação do Grupo, gostaria que a senhora comentasse?
Edi: Primeiro, em termos espirituais, o espírito da
criança é informação, precisa muito mais do que tudo ser evangelizado mesmo, quem
é o futuro do Grupo Lauro? São as crianças, para isso precisam estar
evangelizadas, nós não queremos crianças preparadas para levar o Irmão Lauro
para frente? As crianças já estão levando, porque elas estão levando os evangelizadores,
elas aprendendo, futuramente elas serão as evangelizadoras. A Simone não é? A
Renata não é? São as crianças que levam, elas têm lembranças boas dos
evangelizadores, eu acho isso muito importante. Jesus mesmo dizia “Deixai vir a
mim os pequeninos” não é novidade para o Irmão Lauro e nem para nós.
Neuzinha: É verdade, porque é a criança que
sustenta em qualquer casa, seja espírita ou não. Vocês já pararam para pensar
no sábado, naquele horário, o intercâmbio de crianças, temos que ser modelos,
respeitar um ao outro temos que amar realmente.
“TEMOS QUE AMAR
REALMENTE, PORQUE O AMOR TRANSFORMA”
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Edi: Eu quero agradecer a Deus por ter
trazido vocês aqui, aos amigos, a você Simone eu fico tão feliz de você
pertencer ao Departamento Infantil e estar ocupando o lugar que você ocupa, que
Deus proteja vocês e que vocês possam continuar cada vez mais com as crianças
do Grupo Irmão Lauro. Muito obrigado, foi uma grande oportunidade que vocês me
deram.
Neuzinha: Eu agradeço a vocês, porque foram
vocês que nos deram a oportunidade, estávamos precisando, porque Deus é
bondade, amor e carinho.
Publicado originalmente no extinto Jornal Vozes do Lauro, em novembro de 2005, quando o Grupo da Fraternidade irmão Lauro completava 42 anos de existência.
GB
Publicado originalmente no extinto Jornal Vozes do Lauro, em novembro de 2005, quando o Grupo da Fraternidade irmão Lauro completava 42 anos de existência.
GB
como é bonito ver um trabalho que rendeu vários frutos !!
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