Jorge Hessen - quinta-feira, 22 de outubro de 2015
Confrades solicitaram-me comentar novamente sobre a tendência umbandista nas instituições espíritas cristãs. Disseram-me que muitos centros “espíritas”, localizados no planalto central, possuem dirigentes, trabalhadores e frequentadores que ainda não se desataviaram dos ritos umbandizantes. São frequentadores, médiuns e doutrinadores que não conseguem se livrar das entidades de “terreiro”. Como se não bastasse, há os que elegem na instituição espírita cristã “mentores ou mentoras” de espíritos impregnados dos atavismos psicológicos de “vovós sicranas” ou “vovôs beltranos”, ou veneram “ex” “preto(as) velhos(as)” etc., como se tais “entidades” fossem campeãs da humildade. Nada mais inconsistente! E não se podem comparar tais “entes” com os sensatos espíritos que se apresentaram como “ex-padres” e “ex-freiras” na concepção da Codificação Espírita.
A rigor, os cognominados “vós fulanas”, “vôs fulanos”, “pretos(as) velhos(as)”,
“índios”, “caboclos” e semelhados, quando desencarnados, não mais pertencem a
quaisquer das distintas raças humanas terrenas. No além-túmulo, o espírito não
é amarelo, nem vermelho, nem negro, nem branco, embora possa apresentar em seu
perispírito distinções de alguma raça, idade, se ainda assim se sentir em face
da limitação moral e intelectual e ou assim se conceber, como sucedeu numa das
reuniões realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em que Allan
Kardec dialogou com um Espírito de um “velhinho” (Pai César), episódio narrado
na “Revista Espírita” de junho de 1859.
A entidade disse a Kardec que havia desencarnado em 8 de fevereiro de 1859, com
138 anos de idade. Tal fato [idade] chamou a atenção do Codificador, que logo
se interessou em obter, da Espiritualidade, mais informações sobre o falecido.
O “velhinho” disse que havia nascido na África e tinha sido levado para
Louisiana [EUA] quando tinha apenas 15 anos. Desabafou, expondo a todos as
mágoas guardadas em seu coração, fruto dos sofrimentos por que passara na Terra
em função do preconceito da época. E tamanhas eram as feridas que trazia no
peito que chegou a dizer a Kardec que não gostaria de voltar à Terra novamente
como negro.
Será que um “vovô”, uma “vovó”, um(a) preto(a) velho(a), pode ser mentor(a)
espiritual de uma casa espírita cristã? Em que pese considerar estranhíssima
essa situação, talvez sim! Quem sabe possa uma dessas entidades, através de
suas palavras e atos, mostrar que é digna desse título, se demonstrar
conhecimentos doutrinários superiores aos nossos a fim de nos orientar e
manifesto amor para nos exemplificar. Porém, não! se evidenciar insuficiente
cultura, pouca evolução espiritual e muito apego ainda às sensações materiais
(exigir os títulos de “vovô”, “vovó”, preto(a) velho(a), linguajar primário,
argumentos infantis, raciocínio vagaroso, etc.
A maioria absoluta das comunicações de pretos-velhos como “mentores
espirituais” de uma instituição genuinamente espirita cristã é resultado da
insipiente sugestão mediúnica, do incabível animismo, ou dos ardis psicológicos
e das teimosas mistificações. Pessoalmente não aprovo nem compreendo a
manifestação de um “Bezerra de Menezes” travestido de velhinho caquético com
voz de “defunto”. Creio que há animismo nesse “transe” ou vício psicológico do
“intermediário”.
Não desconhecemos que houve, seguramente, espíritos bondosos que encarnaram
entre os negros africanos para inspirar aquele povo sofrido, de modo sábio e
amoroso, durante o seu cativeiro. Alguns deles, após a morte, certamente tenham
podido regressar à retaguarda terrena, por amor ao próprio crescimento
espiritual no serviço do bem. Mas não foram numerosos tais espíritos
“bonzinhos”, “humildezinhos”; pela lógica, foram raros, porque quase a
totalidade dos escravos eram como nós: espíritos de mediana ou pouquíssima
evolução.
Há obsessores (e não são poucos) que fingem essa aparência e linguajar (de
entes de “terreiros”) com o objetivo de iludir e manter sob hipnose os
espíritas ignorantes. Diante desses perspicazes seres do além (às vezes
tão-somente produto da mente do “médium”), procuramos adverti-los, alertá-los
para a responsabilidade pelos seus atos. Se não acolherem nossas advertências
apelamos ao expediente da austeridade verbal e da segurança moral para que se
arredem do local, exorando, por nossa vez, o amparo dos diretores espirituais
da sessão.
Nas sessões mediúnicas que dirijo há 4 décadas, se ocasionalmente há
manifestação de tais espíritos (“vós”, “vôs”, “pretos(as) velhos(as)”, caboclos
e correlatos), se for permitida pela espiritualidade diretora da sessão, tais
espíritos são orientados adequadamente. Não permitimos qualquer intolerância ou
preconceito contra eles. Entretanto, analisamos atentamente sua natureza e o
conteúdo de suas comunicações, como fazemos com qualquer espírito que se
manifeste no grupo. Tais espíritos, para se comunicarem mediunicamente, não
precisam e nem estimulamos o uso de linguajar bizarro, incompreensível aos
médiuns e aos participantes da reunião.
O bom senso recomenda que se um desses desencarnados insistir na aparência ou
linguajar momentaneamente de suas personagens do passado e deseja evidenciar
sua identidade, a manifestação será admissível, se houver quem o possa
identificar. Caso contrário será uma comunicação improdutiva. Se tais entidades
se apresentam com atavismos da última encarnação (ex-escravos “velhos ou
novos”, índios etc.) buscamos orientá-los, a fim de se libertarem desse
atavismo. Assim, buscamos esclarecê-los quanto à sua real natureza de espíritos
em evolução. Na doutrinação nos esforçamos para advertir-lhes que já
reencarnaram diversas vezes em diferentes condições e, portanto, têm patrimônio
espiritual mais vasto que um simples “velho” ou correlato de uma raça sofrida.
Deste modo, procuramos revelar-lhes que não precisam se fixar no psiquismo da
existência que concluíram, e que na vida espiritual podem continuar progredindo
em todos os aspectos, até mesmo no modo de se vestir e falar. Há os que usam
sutis subterfúgios, dizendo que se apresentam assim porque tal ou qual
encarnação lhes foi muito grata por lhes haver permitido adquirir “virtudes”,
especialmente a “humildade” e daí seu desejo em exemplificar. Óbvio que esse
argumento é astucioso, pois quem conquistou a virtude da humildade não precisa
trombetear e ou ostentar trejeitos de falsas modéstias. Por essa razão
orientamos tais “velhinhos” que a humildade não consiste em expressões verbais
e aparências exteriores nem em atitudes subservientes.
Muitas pessoas supõem que pretos-velhos, índios e caboclos sejam serviçais para
lhes atenderem aos pedidos. Outras acreditam que eles tenham poderes
misteriosos, capazes de resolver de modo mágico os problemas dos consulentes.
Parecem também julgá-los subornáveis, já que aceitariam agir em troca de algum
“pagamento” ou compensação. Em verdade, uma evocação por rituais específicos
convidam e condicionam certos espíritos a se apresentarem como preto-velhos,
índios ou caboclos. E alguns espíritos, às vezes até os bonzinhos, adotam essa
aparência para que assim as pessoas do meio em que se vão manifestar
(“terreiro”) acolherão mais espontaneamente a sua apresentação e recomendações.
Enfatizamos porém, que se não estimularmos esse condicionamento, muitos
espíritos deixarão de se apresentar como vermelhos, pretos, brancos, velhos,
novos etc. etc. etc., passando a se comunicar em seu modo próprio e natural.
Muitos entendem que os “vovôs”, “vovós”, “caboclos” e “pretos-velhos” são mais
eficazes. Creem que as proteções que os Espíritos normais não obtêm os tais
mágicos “velhinhos” e “índios” conseguem. Nada mais bisonho!
Sobre o linguajar de tais entes, observamos que a fala de “pretos velhos” não
costuma corresponder aos legítimos dialetos africanos ou aportuguesamento deles
de épocas remotas. É mais uma tagarelice, uma enrolação, uma confusão de vozes
sem significado ou ligação com o que os africanos falavam. A isso classifico de
mistificação. Sobre os tais caboclos, é óbvio que índios brasileiros não
poderiam jamais se denominarem por exemplo “caboclos 7 flechas” (não tinham
noção de número), não se autodenominariam “flecha ligeira”, “nuvem branca”
etc., como o fazem os índios norte-americanos, os quais as academias de
hollywood popularizaram nos filme de “bang bang”.
Em suma, somos espíritas cristãos, e como tais devemos nos comportar e agir no
dia a dia, especialmente nas sessões mediúnicas. Em boa lógica, quem não acolha
ou não se encaixe nos conceitos e práticas espiritas cristãs precisa procurar
diferentes recintos afins, até porque nenhuma pessoa é constrangida a ser
espírita cristã.
Por. Jorge Hessen
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