A felicidade é uma atraente sensação que experimentamos de
euforia, uma percepção vivaz; todavia ela não ocorre em condições
contínuas e permanentes, porquanto felicidade não é o mesmo que euforia. Alguns
procuram estados eufóricos sob efeito dos fármacos psicoativos. Em verdade, se
a felicidade não for simples, se ela for ornada em excesso, inchada de coisas
inúteis, nesse caso não é felicidade, é apenas ilusão.
Nossa felicidade não se constrói com o aumento do salário, com o
ganhar na loteria, com algum bem caro que possamos adquirir. Porém, muitos nos
iludimos achando que a felicidade mora no ter, no possuir, no aparentar,
no exibir. Todavia, a felicidade verdadeira e perene é simples e modesta.
Há pessoas que creem que a felicidade é a posse de bens
materiais. Dinheiro, realmente produz uma certa euforia, porém, muito rápida,
muito momentânea, muito episódica, fugaz. O endinheirado entra em processo
obsessivo de imaginar que a consumolatria e a posse contínua de bens é que
vão deixá-la feliz. Porém, o que ocorre normalmente é que ele vai
ficar em estado de vazio existencial e de pungentes ansiedades.
A felicidade é simples e advém daquilo que é essencial, e o
essencial na vida é a amizade, a fraternidade, a lealdade,
a sexualidade (sadia), a religiosidade. Muita gente confunde o essencial com o
fundamental. Em realidade o fundamental é o que nos ajuda a chegar ao
essencial. Observemos que dinheiro não é essencial mas é fundamental, pois sem
ele teremos problemas materiais. Mas dinheiro em si não nos traz felicidade,
até porque não se compra amor com dinheiro, compra-se sexo
(dissoluto); não se compra amizade com
dinheiro, compra-seinteresse; não se compra fidelidade com dinheiro,
mas compra-se reciprocidade (toma lá, dá cá).
É bem verdade que o dinheiro em si não é
desprezível, mas ele não é suficiente para a realização
pessoal. O equívoco está quando se procura a felicidade naquilo que
é secundário, em vez de procurá-la na sua fonte primária, que é o que de
fato nos dá autenticidade para usufruir a felicidade. Os Benfeitores
espirituais afirmam que ainda não podemos desfrutar de
completa felicidade na Terra. Por isso que a vida nos foi
dada como prova ou expiação. De cada um de nós, porém, depende a
suavização dos próprios males e o sermos tão felizes quanto possível na Terra.
Ponderemos que a felicidade é uma obra de construção
progressiva no tempo. Somos quase sempre obreiros da
própria infelicidade. Mas praticando a lei de Deus, a muitos males
evitaremos e assentaremos em nós mesmos uma felicidade tão grande
quanto o comporte a nossa rude existência.
Nos paradoxos da vida, muitos fogem de casa para
serem felizes, porém outros retornam para casa em busca da mesma felicidade.
Uns se casam, outros se divorciam, com o mesmo intuito de felicidade. Uns
desejam viver sozinhos, outros desejam possuir uma grande família a fim de
serem felizes. Uns desejam ser profissionais liberais para comandar a sua
própria vida e poder gozar de felicidade, outros desejam apenas
ter um emprego para ganharem o salário no final do mês e, assim, serem
felizes.
A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um. O
que basta para a felicidade de um, constitui a desventura de outro.
Nenhuma sociedade é perfeitamente feliz, e o que julgamos ser
felicidade quase sempre camufla penosos desgostos.
O sofrimento está em todos os lugares. As amarguras são numerosas,
porque a Terra é lugar de expiação. Quando a houvermos transformado
em morada do bem e de Espíritos bons, deixaremos de ser infelizes,
assim, enquanto houver um gemido na paisagem em que nos movimentamos, não será
lícito cogitar de felicidade isolada para nós mesmos.
Tal como concebemos, a felicidade não pode
existir, até agora, na face do orbe, porque quase sempre nos encontramos
endividados e não sabemos contemplar a grandeza das paisagens exteriores que
nos cercam no planeta. Apesar disso, importa lembrar que é na Terra que
edificaremos as bases da ventura real, pelo trabalho e pelo sacrifício,
a caminho das mais sublimes aquisições para o mundo divino de nossa
consciência. Portanto, quando o céu estiver em cinza, a derramar-se em chuva,
meditemos na colheita farta que chegará do campo e na beleza das flores que
surgirão no jardim.
A nossa felicidade será naturalmente proporcional em relação à
felicidade que fizermos para os outros. Sim, a felicidade consiste na
satisfação com o que temos e com o que não temos. Poucas coisas são necessárias
para fazer o homem sábio feliz, ao mesmo tempo em que nenhuma fortuna satisfaz
a um inconformado.
Tenhamos certeza: a única fonte de felicidade está dentro de
nós, e deve ser repartida.
Jorge Hessen
Nenhum comentário:
Postar um comentário