O fenômeno da morte e/ou desencarnação constitui uma fatalidade
da qual nenhum ser humano consegue escapar. A morte sobrevindo a cada instante
nas células, que igualmente se revigoram, chega o momento em que a
desoxigenação encefálica se incumbe de interromper as funções do tronco
cerebral, obstruindo a ocorrência biológica da vida carnal.
No processo da morte pesquisadores afirmam que genes permanecem
vivos nos defuntos. Asseguram que alguns genes humanos estão ativos por pelo
menos 12 horas após a morte biológica. A descoberta deixa para a academia a
definição de “morte física” mais emblemática. Cada vez fica mais claro que
desencarnar e ou “morrer” é um longo processo, que começa bem antes da data da
certidão de óbito e termina muito depois dela.
A certeza da vida além-túmulo não elimina as inquietações
humanas quanto à morte e/ou desencarnação. Há muitos que temem não precisamente
a vida futura, mas o momento da extinção do corpo. Será ele traumático? Em
verdade a morte e/ou desencarnação não são iguais para todos, visto que
ilimitados são os comportamentos adotados pelos encarnados.
Apesar de utilizarmos como sinônimos os termos morte e
desencarnação, a rigor estes são fenômenos distintos. De fato, é rara a
coincidência temporal das durações de ambos os processos. É muito mais
frequente o processo de morte propriamente dita ser concluído muito antes da
desencarnação.
A desencarnação para alguns poucos pode ser rápida,
proporcionando uma certa liberdade, até mesmo antes da extinção corporal.
Comumente, a separação da alma é feita gradativamente , pois o Espírito se
desprende vagarosamente dos laços que o prendem, de forma que as condições de
encarnado ou desencarnado, no momento do desenlace, se confundem e se tocam,
sem que haja uma linha divisória entre as duas.
Porém, observando-se a tranquilidade de alguns moribundos e as
comoções assombrosas de outros, pode-se de antemão ajuizar que as impressões
experimentadas durante a morte e/ou desencarnação nem sempre são iguais.
Para as pessoas espiritualizadas a desencarnação se completa
antes da morte, ou seja, tendo o corpo ainda vida orgânica, o Espírito já
penetra na vida espiritual, ficando apenas ligado à matéria por elo tão tênue
que se desata suavemente com o derradeiro pulsar do coração. Porém, para os
algemados aos apelos carnais os laços materiais são vigorosos e quando a morte
se aproxima o desprendimento demanda contínuos esforços. As convulsões da
agonia são indícios da luta do Espírito, que às vezes procura romper os elos
resistentes e outras vezes se agarra ao cadáver, do qual uma força irresistível
o arrebata com violência, molécula por molécula.
No livro “Voltei”, Irmão Jacob (Espírito) descreve na condição
de testemunha sobre tais situações, explicando que quando foi “cortado” o
chamado “cordão prateado” entre o corpo e seu perispírito durante o seu
velório, o impacto que ele (Jacob) sentiu foi tão intenso que achou que “estava
morrendo por segunda vez”. E logo após esse processo de rompimento do “cordão
prateado”, a deterioração do cadáver se acentuou significativamente, conta o
autor.
Os religiosos ingênuos que creem poder comprar o ingresso no
“reino celestial” à custa de dinheiro (dízimos), serão surpreendidos e ficarão
decepcionados com realidade do além-túmulo que os aguarda. Da mesma forma os
suicidas, considerando inclusive as atenuantes e agravantes do suicídio,
depararão com imensa frustração por não lograrem matar a própria vida e
sofrerão enormemente os efeitos inevitáveis da suprema rebeldia às leis do
Criador. Nas mortes violentas, tais como nos acidentes, o desprendimento inicia
após a morte biológica, e sua consumação não ocorre instantaneamente. O
Espírito fica preso ao corpo aturdido, não compreende seu estado, permanecendo
na ilusão de que vive materialmente por período mais ou menos longo, conforme
seu nível de consciência espiritual.
Na maioria das vezes, tendemos a ignorar o fato de nossa
mortalidade, e é somente quando um amigo próximo ou parente querido está
morrendo que, intuitivamente, reconhecemos nosso próprio e inevitável roteiro
em direção à morte. Há milhares de anos esse assunto tem sido uma questão central
para o debate teológico e filosófico, mais do que para a exploração científica
e objetiva; entretanto, como observamos acima, a ciência começou a ampliar a
compreensão sobre o que acontece quando morremos, tanto no aspecto genético do
cadáver quão do aspecto psicológico da alma enquanto mente humana.
Jorge Hessen-Brasília-DF
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