Embora seja discutida como se fosse
uma doença única, a esquizofrenia pode ser considerada como uma síndrome
heterogênea, ou ainda como um grupo de transtornos com causas heterogêneas. A
sua, pode ser considerada a história da própria psiquiatria, uma vez que a
quantidade de estudiosos desta enfermidade é vasta. Neste contexto, pois, o
psiquiatra francês Bénédict Morel (1809-1873) foi quem primeiro se utilizou do
termo démence précoce, o qual seria latinizado, mais tarde, por Emil
Kraepelin (1856-1926) como dementia precox. Caberia, porém, ao suíço
Eugen Bleuler (1857-1939), em 1911, a criação do termo “esquizofrenia”, que
indica a presença de um cisma entre pensamento, emoção e comportamento (esquizo
= cisão, frenia = mente).
Muito embora, pense-se ser ela um
achado raro, atualmente se sabe que a sua prevalência é algo em torno de 1% em
todo mundo, entretanto, apenas uma pequena parcela desta população recebe o
tratamento adequado.
Como há de se convir, não existem
características patognomônicas da doença, ou seja, os sinais e os sintomas não
são exclusivos da esquizofrenia, podendo-se, assim, encontrá-los em outros
distúrbios psiquiátricos e/ou neurológicos. Dessa maneira, a sintomatologia
esquizofrênica se apresenta demasiado abrangente. É interessante notar, no
entanto, a presença importante das alucinações – alteração da percepção em que
o indivíduo percebe algo na ausência do objeto e, por conseguinte, da sensação
(delírios): há sensação e objeto, mas a percepção da realidade é alterada,
fantasiada.
Neste ínterim, pela complexidade do
distúrbio, foram diferenciados vários tipos de esquizofrenias, sendo estes
os principais subgrupos: paranóide – caracterizada, fundamentalmente, pela
presença de delírios de perseguição ou de grandeza; desorganizada ou
hebefrênica – caracterizada, principalmente, por uma regressão acentuada a um
comportamento primitivo; catatônica – caracterizada por uma acentuada
perturbação psicomotora; indiferenciada – na qual pacientes dificilmente se
encaixam em um dos outros tipos; residual – em que os delírios e/ou alucinações
são pobres.
Mas, apesar destas diversidades de
termos, a sua causa, para a Medicina oficial, é, ainda, desconhecida. Nada
obstante, no aspecto bioquímico, observou-se que a atividade dopaminérgica está
muito elevada nos indivíduos esquizofrênicos. E, na atualidade, outros
neurotransmissores vêm sendo colocados na implicação da fisiopatologia desta
doença, tais como a serotonina, a noradrenalina e o GABA. Neuropatologicamente
falando, o sistema límbico, que exerce importante papel no controle das
emoções, em pacientes portadores de tal síndrome, apresenta, conforme se
observou, diminuição no tamanho da região que abrange a amígdala, o hipocampo e
o giro para-hipocampal. Apesar de este sistema ser, de acordo com os
estudiosos, a base fisiopatológica da doença, outras áreas cerebrais parecem
estar envolvidas, como os núcleos basais, já que estão relacionados com o
controle dos movimentos, os lobos frontais do telencéfalo, o tálamo e o tronco
cerebral. Geneticamente, observa-se que há uma ligação na presença de
distúrbios em membros de uma mesma família, sendo esta tanto mais forte quanto
maior for o grau de parentesco. Modernamente, ainda, os exames sofisticados de
imagens cerebrais, tais como a ressonância magnética e a tomografia por emissão
de pósitrons, e os eletroencefalográficos vêm dando maiores subsídios para o
estudo.
Um modelo para integração destes
fatores etiológicos é o estresse-diátese, em que há no portador uma vulnerabilidade
específica, ou diátese, a qual deve ser influenciada por um estresse para o
surgimento da sintomatologia. De modo geral, tanto a primeira, quanto o
segundo, podem ser biológicos e/ou ambientais. Outrossim, mecanismos ditos
epigenéticos, como traumas e drogas, podem contribuir.
Percebe-se, pois, que a esquizofrenia
é uma síndrome com grande componente fisiológico. A par disso, porém, fatores
psicossociais merecem grande destaque. Neste sentido, diversas teorias que
envolvem o paciente, a família e os aspectos sociais foram elaboradas. Como
exemplo, tem-se as dadas pela psicanálise, não só as formuladas por Freud, mas
também as de Sullivan e as descritas por Margaret Mahler.
Há de se considerar, no entanto,
sempre, a complexidade desta enfermidade. Sendo assim, imperioso é lembrar das
palavras de Bleuler, quando concluiu ser a esquizofrenia “uma afecção
fisiógena, mas com ampla superestrutura psicógena”. Dessa forma, apesar das
grandes descobertas, do ponto de vista fisiológico, já realizadas até aqui no
campo dos mecanismos etiopatogênicos, é preciso convir que o arsenal ainda não
se esgotou. Isso porque, afora as contribuições psicossociais, há que se levar
em consideração o Espírito imortal, agente causal fundamental.
Não são de espantar, portanto, as
palavras do sábio grego Sócrates, quando dissera: “Se os médicos são
malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem
tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que
uma parte dele passe bem”.
Neste ínterim, a Doutrina Espírita
identificando o indivíduo real como sendo o Espírito, ser pensante do Universo;
estudando profundamente as relações deste com o corpo material, através do seu
envoltório, ou perispírito, no dizer de Allan Kardec; comprovando a
imortalidade da alma, através das comunicações mediúnicas, e a capacidade que
os desencarnados têm de influenciar os ditos vivos; mostrando a reencarnação e
explicando os mecanismos evolutivos da lei de ação e reação; mostrando a
loucura por outro prisma; e destrinchando os mecanismos das obsessões, vem, por
isso mesmo, abrir novos rumos ao entendimento desta importante doença.
Desse modo, como já dissera o Dr.
Adolfo Bezerra de Menezes, “nessa estrutura psicógena”, falada pelo eminente
psiquiatra suíço supracitado, situam-se, igualmente, “os fatores cármicos, de
procedência anterior ao berço que pesam na consciência culpada…”. Isso porque,
também, o paciente esquizofrênico é um Espírito imortal em processo de
evolução.
Neste contexto, pois, observa-se que a
esquizofrenia guarda a sua origem profunda no Espírito que delinque. Este fica
atormentado pela consciência de culpa, devido aos erros de vidas transladas, os
quais, provavelmente, passaram despercebidos pela justiça terrena, mas não foram
capazes de ludibriar as leis do Criador, porque inscritas dentro do ser.
Consequentemente, tal sentimento impregna o perispírito e, mais cedo ou mais
tarde, em uma nova vida, vai trazer à tona no corpo físico, desde antes da
concepção, os fatores necessários para a predisposição à síndrome e necessária
reparação dos crimes cometidos.
Não se trata, portanto, de uma cisão
do pensamento, conforme lhe indica o nome, mas de uma dificuldade em
exteriorizá-lo, em face do processo complexo supra-explicado que constitui para
o esquizofrênico um impositivo expiatório, uma vez que em outras tentativas
provacionais, em outras existências, ele foi malsucedido.
Dessa maneira, com as contribuições da
ciência espírita, pode-se entender a esquizofrenia como sendo uma síndrome que
tem no seu fundamento um transtorno espiritual. Este gera no corpo os meios
fisiológicos necessários à sua exteriorização, sendo influenciado por diversos
fatores psicossociais. Além disso, é preciso levar em conta a influência
negativa, através da obsessão, gerada pela(s) antiga(s) vítima(s) do atual
doente, o que contribui para o agravamento do quadro e surgimento de outras
disfunções características do transtorno. Por isso mesmo, é preciso vê-la como
sendo um processo misto de natureza espiritual, fisiológica, obsessiva, e com
fortes influências psicossociais.
Mister se faz anotar, ainda, que todas
essas etiologias atualmente explicadas pela Ciência são, na verdade,
“causas–consequências” e não as origens reais, uma vez que estas se encontram
no ser causal e não na sua cópia material. Afora isso, a complexidade
sintomatológica e causal está, certa e diretamente, ligada às intricadas e
complexas tramas do Espírito e do destino. Outrossim, aquilo que muitos têm na
cota de alucinações e de delírios são, em reiteradas oportunidades, contatos
mediúnicos; não se ignorando, entretanto, que podem ser, também, reflexos da
consciência turbilhonada que traz, de quando em vez, sensações do passado; ou,
ainda, originadas pela desorganização do soma.
Portanto, por se tratar de uma
síndrome com grandes componentes fisiológicos, o tratamento farmacológico com
os antipsicóticos, proposto pela Psiquiatria, se faz urgente, tanto para
reprimir os sintomas, quanto para tratar aquilo que preferimos chamar de “causas–consequências”.
No entanto, visando ir além, não se deve furtar aos benefícios das diversas
abordagens psicoterápicas vigentes.
Observando-se, porém, as contribuições
do Espiritismo o qual vislumbra o ser integral, imprescindível se faz, com o objetivo
de remontar às causas fundamentais da esquizofrenia, não ignorar a terapêutica
espiritual em que figuram a desobsessão, a fluidoterapia pela imposição das
mãos e pela água, a oração e, primordialmente, a psicoterapia oferecida pela
Doutrina Espírita, que se baseia nos ensinos de Jesus sobre o amor e a
caridade, e que, um dia não muito longínquo, estará impregnando os conceitos
das academias.
Nada obstante, não se deve esperar
resultados exageradamente rápidos em se tratando de tão grave enfermidade, que
tem raízes fincadas em vidas passadas, vez que outra, multimilenares. Além do
mais, seres imortais que todos são, os homens não devem vislumbrar apenas o
momento fugidio, mas, sobretudo, o relógio do futuro.
Sendo assim, como ser imortal que vive no
presente cuidando do porvir, o indivíduo, Espírito que é, deve procurar o
trabalho da profilaxia. Neste contexto, como se pode deduzir, o Evangelho de
Jesus é ainda, e sempre será, a melhor alternativa. A sua mensagem de vida
abundante deve hoje, e deverá amanhã, penetrar a vida de todos em busca da
saúde integral. O amor, terapêutico e profilático, é, e sempre será, o divino
remédio. Neste sentido, pois, mister se faz lembrar destas palavras do Mestre,
as quais são, ao mesmo tempo, claras e simbólicas: “Reconciliai-vos o mais
depressa possível com o vosso adversário, enquanto estais com ele a caminho,
para que ele não vos entregue ao juiz, o juiz não vos entregue ao ministro da
justiça e não sejais metidos em prisão”. E esta prisão, muitas vezes, vem em forma
de uma estrutura nervosa desajustada, qual a que ocorre em um paciente
esquizofrênico.
Bibliografia:
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Fonte: Revista Reformador
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