“De muitas dificuldades se mostra inçada a prática do Espiritismo e nem sempre isenta de inconvenientes a que só um estudo sério e completo pode obviar.” Allan Kardec (LM –Introd.)
Escolhos, segundo o dicionário Aurélio:
Rochedo à flor da água. Recife. Dificuldade, obstáculo. Perigo, risco.
No capítulo XVIII de O Livro dos Médiuns, o Codificador expõe os perigos e
inconvenientes da mediunidade e em vários outros pontos da obra adverte quanto
aos escolhos, isto é, aos riscos e dificuldades que podem surgir na prática
mediúnica. Entretanto, são poucos os que atentam para os cuidados necessários a
esse exercício, seja porque imaginam que tais riscos não existem e que não é
difícil manter o intercâmbio com o plano espiritual já que os espíritos se
comunicam espontaneamente, seja porque não dão valor ao estudo, preferindo
deixar para os “guias” a tarefa de orientá-los.
Esse tipo de pensamento e de conduta tem ocasionado sérios problemas, especialmente
aos médiuns e integrantes de grupos mediúnicos e acabam por influir
negativamente no próprio Movimento Espírita, visto que disseminam a confusão,
favorecem ao surgimento de movimentos paralelos, de práticas estranhas, tudo
isto expressando a ausência de estudo, e até mesmo de uma leitura distorcida
dos ensinamentos doutrinários, na qual se mesclam o personalismo, a vaidade, a
precipitação.
Vejamos
como Allan Kardec destaca os escolhos da mediunidade:
1 – Inconvenientes e perigos
No capítulo mencionado acima, o Codificador
registra os riscos de se tentar o exercício da faculdade mediúnica em pessoas
com algum tipo de transtorno mental e nas crianças.
Assinala,
logo de início, que a faculdade mediúnica não é uma patologia mental, mas que
pode ser considerada um estado anômalo, isto é, anormal (aqui com o sentido de
fora do padrão normal do cérebro), pois que o médium entra em transe. Portanto,
a prática da mediunidade para aqueles que apresentem distúrbios mentais seria
uma sobrecarga psíquica que agravaria as limitações já existentes.
Em
relação às crianças, mesmo que a faculdade se apresente espontaneamente,
deve-se evitar o seu exercício, pois como é óbvio, elas não têm condições de
entender as responsabilidades inerentes ao intercâmbio com os espíritos.
2
– A obsessão
Kardec afirma, no capítulo XXIII de O Livro
dos Médiuns, ser a obsessão o maior risco ou dificuldade que os médiuns
enfrentam na prática mediúnica e também um dos mais freqüentes. (it.242)
Em
razão do estágio evolutivo da Humanidade, pode-se dizer que, em âmbito geral,
todos somos ainda vulneráveis às influências negativas, que podem levar o
indivíduo a condutas viciosas e à permanência em patamar mental e espiritual
inferior, até que se conscientize da necessidade de sua transformação moral.
O
Codificador esclarece que, diante do perigo da obsessão ocorre o questionamento
se não é lastimável o ser-se médium (244) como também o inconveniente das
comunicações dos espíritos. Argumenta, então, que os espíritos não são uma
criação dos médiuns ou dos espíritas e que estes não provocam a manifestação
daqueles. Ocorre exatamente o contrário. Assim, a influência que exercem na
vida dos encarnados é constante, conforme registra a questão 459 de O Livro dos
Espíritos.
Segundo
a regra geral, ressaltada por Kardec, o médium que receba más comunicações
psicográficas ou psicofônicas, está sob a influência de espíritos inferiores. Ele apresenta várias
advertências: a) quanto ao cuidado em querer publicar tudo o que o médium
recebe, sendo necessária uma análise rigorosa do teor das mensagens, para
evitar-se dar a público idéias excêntricas, utopias, etc.; b) refere-se ao
médium que se melindra diante de alguma crítica feita às comunicações que
recebe, pois nesse caso é bem nítida a influência de espírito fascinador; c)
enfatiza que “toda comunicação dada por um médium obsidiado é de origem
suspeita e nenhuma confiança merece”.
3 – Contradições
Capítulo
XXVII de O Livro dos Médiuns.
Sendo
as comunicações mediúnicas provindas de espíritos de diferentes categorias, é
natural que se observe diferentes opiniões e pensamentos, tal como ocorre entre
os encarnados
Allan Kardec esclarece que as comunicações podem trazer o cunho da ignorância ou do saber, da inferioridade ou da superioridade moral
Allan Kardec esclarece que as comunicações podem trazer o cunho da ignorância ou do saber, da inferioridade ou da superioridade moral
É
importante citar que os espíritos superiores jamais se contradizem. Entretanto
suas mensagens são apropriadas a cada época e cada lugar.
Cabe
aos verdadeiros espíritas aprofundar os conhecimentos para que possam
distinguir o joio do trigo. A questão da forma é secundária, o essencial é que
as idéias e os princípios que apresentem estejam fundamentados na Doutrina
Espírita.
4 – Mistificações
As
comunicações de espíritos mistificadores são consideradas por Kardec como os
escolhos mais desagradáveis da prática mediúnica.
Nenhum
médium está livre de ser enganado por algum espírito mal-intencionado, visto
que não existe médium perfeito. O que vale dizer que há premente necessidade de
estudo, vigilância, conduta moral elevada, a fim de que o médium possa perceber
e identificar cada vez com mais acuidade os espíritos que dele se aproximam e
que desejem comunicar-se por seu intermédio.
Kardec
aconselha: “Estudai, comparai, aprofundai.”
A
par disso, é primordial a constante busca de aperfeiçoamento moral do
medianeiro, para que possa merecer a presença dos bons espíritos no desempenho
de seu trabalho.
O
instrutor espiritual Alexandre, no cap. IX do livro “Missionários da Luz”,
leciona:
"Se aspirais ao desenvolvimento superior, abandonai os planos inferiores. Se
pretendeis o intercâmbio com os sábios, crescei no conhecimento, valorizai as
experiências, intensificai as luzes do raciocínio! (...) Se desejais a presença
dos bons, tornai-vos bondosos por vossa vez!”
5
– Animismo
Importantes
esclarecimentos quanto ao animismo são registrados por Allan Kardec em O Livro
dos Médiuns, cap. XIX, it.223 – 2ª q. até a 7ª.
Este
é um tema muito debatido entre os que se interessam pelo estudo da mediunidade
e por aqueles que a estão praticando. O animismo pode ser considerado também
uma dificuldade que os médiuns enfrentam e nem sempre estes e os integrantes de
grupos mediúnicos identificam quando ocorre.
Assim,
a alma do médium, em certas circunstâncias, pode comunicar-se sem que ele tenha
consciência do fato. Essa possibilidade é usada como argumento por aqueles que
não admitem a idéia da manifestação dos
espíritos, tudo atribuindo ao inconsciente dos médiuns.
Em todos os aspectos sobressai a recomendação do Codificador quando diz, enfaticamente, que devemos estudar, comparar e aprofundar as diretrizes espíritas.
Em todos os aspectos sobressai a recomendação do Codificador quando diz, enfaticamente, que devemos estudar, comparar e aprofundar as diretrizes espíritas.
Joanna
de Ângelis, por sua vez, aconselha: “Estuda e estuda-te”. (In Celeiro de
Bênçãos)O que vale dizer, estuda – a Doutrina Espírita; estuda-te – a ti mesmo.
É primordial que o médium se auto-analise para conhecer o teor dos próprios
pensamentos e distinguir aqueles que lhe são peculiares e os que provêm dos
espíritos comunicantes.
Importa
lembrar que toda comunicação leva o colorido anímico do médium, ou seja, suas
características de personalidade, de seu acervo pessoal, sem que seja animismo
propriamente dito. O médium é o intérprete do pensamento do espírito e irá
revestir esse pensamento com suas características pessoais, o seu modo de ser,
de se expressar.
5 – Outros escolhos
Podemos
ainda citar como dificuldades e que são também riscos na prática mediúnica, a
vaidade, o orgulho, o egoísmo, o personalismo e outros tantos defeitos que
ainda preponderam na alma humana.
O
espírito Joana d’Arc, em mensagem constante do cap. XXXI de O Livro dos
Médiuns, it. XII, adverte:
“A faculdade de que gozam os médiuns lhes
granjeiam os elogios dos homens. As felicitações, as adulações, eis, para eles
o escolho. Rápido esquecem a anterior incapacidade que lhes devia estar sempre
presente à lembrança. Fazem mais: o que só devem a Deus atribuem-no a seus
próprios méritos. Que acontece então? Os bons Espíritos os abandonam, eles se
tornam joguete dos maus e ficam sem bússola para se guiarem. Quanto mais
capazes se tornam, mais impelidos são a se atribuírem um mérito que lhes não
pertence, até que Deus os puna, afinal, retirando-lhes uma faculdade que, desde
então, somente fatal lhes pode ser.
Nunca
me cansarei de recomendar-vos que vos confieis ao vosso anjo guardião, para que
vos ajude a estar sempre em guarda contra o vosso mais cruel inimigo, que é o
orgulho.”
Suely Caldas Shubert
Suely Schubert é médium, autora de dezenas de livros e
produtos audiovisuais, conferencista renomada, com exposições em todo o Brasil
e no exterior.
Fundadora e dirigente da Sociedade Espírita Joanna de
Ângelis, em Juiz de Fora, MG, desde a juventude dedica-se às lides espíritas.
Grande estudiosa e pesquisadora, apresenta com singular
propriedade temas da mais alta significação: mediunidade, mente, obsessão,
psiquismo, fenômenos espíritas, comportamento, evangelho e outros mais.
Resultado de sua persistente e dedicada busca da compreensão
dos desafios existenciais, Suely adquiriu o precioso e amplo conhecimento que
compartilha com seus companheiros de jornada, para que todos possam alcançar de
forma mais segura a plenitude.
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