Operárias de Jesus |
Jorge Hessen - terça-feira, 1 de dezembro de 2015
A primeira das congregações cristãs surgiu na Galileia, e era composta
principalmente de mulheres simples, do povo. Tais sustentáculos do Evangelho
socorriam os mendigos, pedintes, coxos, aleijados. Na crise do Calvário, as
mulheres galileias tiveram posição destacada ao pé da cruz. A “Casa do caminho”
contou com a colaboração fundamental delas. Portanto, elas não foram simples
coadjuvantes das passagens que marcaram os tempos apostólicos. Foram as
testemunhas de momentos-chave daqueles tempos em que as mulheres eram tratadas
como seres de “segunda classe”, porém o Cristo as tratava com respeito
incondicional.
No primeiro prodígio público do Mestre , nas bodas de Caná, é descrita a
pujante fé exercida por Maria de Nazaré ao instruir os servos a obedecerem ao
seu Filho amado: “Fazei tudo quanto Ele vos disser”. [1] Logo, as talhas de
água foram enchidas, e o Senhor transformou a água em vinho atendendo ao pedido
de ajuda de Maria para servir aos convidados do casamento.
Junto à mulher de Samaria o Mestre comprova sua reverência a todas as
mulheres, sem distinção de nacionalidade ou formação religiosa. Após marchar
sob um sol causticante, o divino Carpinteiro parou para descansar e abater a
sede. Iniciou uma conversa com aquela samaritana à beira do poço de Jacó e
solicitou um pouco d’água. Gradualmente, ao longo da conversa, a samaritana
assumiu um testemunho da divindade daquele homem, primeiro chamando-o “judeu”,
depois de “Senhor”, então “profeta” e por fim de “Messias”. Ressalte-se que os
judeus consideravam os samaritanos mais abomináveis do que quaisquer outros
gentios e evitavam ter contato social com eles. Além do mais , nessa
ocorrência, o Divino Rabi além de abandonar as tradições judaicas declarou pela
primeira vez para a mulher que era o Cristo.[2]
O excelso Galileu informou que tinha a “água viva” [3]e os que bebessem
dela jamais teriam sede. Assombrada, a samaritana fez outras indagações. O
príncipe da Paz , então , revelou a desventura dela e seu atual relacionamento
“impuro”. Embora ela pudesse ter-se sentido envergonhada, percebeu, porém,
que Jesus lhe falou com benignidade, porquanto respondeu, absorta:
“Senhor, vejo que és profeta”.[4] Ela, então, deixando o pote de água foi até a
cidade e anunciou: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito.
Porventura não é este o Cristo?” [5]
Jesus sempre atento às mulheres conhecia os detalhes da vida delas. Além
disso, Ele as respeitava independentemente da condição moral de cada uma. Tal
como ocorreu noutro episódio com a mulher adúltera. Embora os escribas e
fariseus persistissem em provocar Jesus e a humilhar a adúltera, o Mestre, por
compaixão da mulher caída, lançou a sentença aos acusadores: Aquele que de
entre vós estiver sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela. [6].
Condenando-se a si mesmos, os acusadores, um a um, afastaram-se humilhados,
deixando apenas a frágil mulher diante do Governador da Terra que
perguntou-lhe: “Onde estão aqueles teus acusadores? Ninguém te condenou? E ela
disse: Ninguém, Senhor!. E disse-lhe Jesus: Nem eu também te condeno; vai-te, e
não peques mais” [7].
Como observamos Jesus tratava as mulheres com compaixão e
respeito, a despeito das suas histórias. Noutro episódio demonstrou empatia
consolando a convertida de Magdala quando a encontrou em lágrimas no jardim do
sepulcro. Narra o evangelista: “No primeiro dia da semana, Maria Madalena foi
ao sepulcro de madrugada, sendo ainda escuro, e viu a pedra tirada do sepulcro”
[8]. Ao ver que a pedra havia sido removida, Maria correu para procurar ajuda e
para alertar os apóstolos de que o corpo de Jesus desaparecera. Ela encontrou
Pedro e João, que correram ao sepulcro e somente encontraram as roupas de
sepultamento. Então, os dois apóstolos partiram, deixando Maria sozinha no
jardim da sepultura.
Madalena estava chorando no jardim que ficava junto à
catacumba: a ideia de não saber o que havia acontecido com o corpo do
Crucificado pode tê-la deixado desolada. Embora o Mestre lhe tenha
aparecido e falado com ela, a princípio ela não O reconheceu. Mas então
“disse-lhe Jesus: Maria!” [9] neste instante algo fez com que ela soubesse que
se tratava de Filho de Deus. O reconhecimento foi instantâneo. Seus olhos em
lágrimas brilharam de alegria. Depois de testemunhar o Senhor “ressuscitado”,
foi pedido a Maria que testificasse aos apóstolos que Ele estava vivo.
Madalena obedeceu. Embora os discípulos tenham se mostrado céticos
a princípio [10], o testemunho da convertida de Magdala deve ter tido algum
impacto. Mais tarde, os discípulos estavam reunidos para falar dos
acontecimentos daquele dia, provavelmente ponderando o testemunho de Madalena ,
quando “chegou Jesus, e pôs-se no meio, e disse-lhes: Paz seja convosco”. [11]
Historicamente o patriarcalismo ancestral tem dominado a
trajetória do Cristianismo. Os donos da Igreja entronizaram um Deus “Pai”
e não Mãe, um Criador e não Criadora, exaltaram os 12 apóstolos e não as
apóstolas, exaltaram o filho de Deus e não filha.
Mas sem sombra de dúvida que foram as mulheres que não só
participaram, como protagonizaram boa parte dos momentos decisivos da Boa Nova.
Recordemos Maria Salomé (esposa de Zebedeu), Maria [esposa de Cléofas], Maria
(mãe de João Marcos), Maria e sua irmã Marta (irmãs de Lázaro) Lídia (mãe de
Silas), Joana de Cusa, Loíde (avó de Timóteo) Eunice (mãe de Timóteo), Priscila
(esposa de Áquila) Lídia (viúva digna e generosa) Suzana dentre outras que
trabalharam nos “bastidores”.
Prosseguindo no tempo, vamos identificar a força das mulheres no
protagonismo da Terceira Revelação. Foram elas, as irmãs Fox, Florence
Cook, Amália Domingo y Soler, Elisabeth D'Espérance, Eusápia Paladino, Roger,
Plainemaison que colaboraram intensamente para a propagação da imortalidade.
Allan Kardec teve incondicional apoio moral de sua consorte Amélie Gabrielle
Boudet, estudou as arrebatadoras mediunidades das irmãs Julie Baudin e Caroline
Baudin, Ruth Celine Japhet, Aline Carlotti e Ermance Dufaux.
Para quem desconhece, saibamos que as irmãs Baudin psicografaram a
quase totalidade das questões de O Livro dos Espíritos nas reuniões familiares
dirigidas por seus pais e gerenciadas pelo mestre de Lyon. A senhorita Ruth
Celine Japhet foi a medianeira responsável pela revisão completa do texto,
incluindo adições do livro pioneiro do Paracleto. A jovem Aline Carlotti [12]
era membro do grupo de médiuns através do qual Kardec referendou as questões
mais espinhosas do Livro dos Espíritos, fazendo uso da Concordância dos Ensinos
dos Espíritos.[13]
Afinal, não poderíamos deixar de bancar uma justa homenagem às
personagens espirituais (populares entre os brasileiros), a saber: Maria
Dolores, Meimei, Auta de Souza, ministra Veneranda, Sheila, Maria João de Deus (mãe
de Chico Xavier), Joana de Angelis, irmã Rosália, Maria Dolores, Adelaide
Augusta Câmara, Anália Franco, Anna Rebello Prado, Benedita Fernandes, Corina
Novelino, Heigorina Cunha, Yvonne do Amaral Pereira, Zilda Gama.
Vão aqui as minhas sinceras reverências a todas as mulheres
que fazem do atual Espiritismo um elo inquebrantável entre a Terra e o Céu.
Notas e
referências:
[1] João 2:5
[2] João 4:9–29
[3] João 4:10
[4] João 4:19
[5] João 4:29.
[6] João 8:7–8
[7] João 8:10–11
[8] João 20:1
[9] João 20:16
[10] Lucas 24:11
[11] João 20:19
[12] Era filha de
sr. Carlotti, um dos iniciadores de Rivail nas pesquisas sobre os fenômenos mediúnicos
[13] Kardec cita
essa última checagem em Obras Póstumas, p.270 (26ªedição da Feb).
Por Jorge Hessen
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