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(Este artigo é uma atualização de outro do mesmo nome escrito por mim
em 1957, e ainda hoje é lido e transcrito em todo o movimento espírita.).
Muito se tem escrito e discutido, nos últimos tempos, no movimento
espírita a questão homossexual. A discussão, como vem ocorrendo, me parece
fora do seu contexto real. Numa boa aplicação do pensamento lógico, antes de
se abordar a parte, deve-se conseguir uma clara visão do todo. Está a se
debater o homossexualismo, sem haver sido deslindada a problemática sexual.
Sócrates desmascarou a pretensa "sabedoria" de muitos dos
seus contemporâneos, pedindo a eles que definissem os termos que usavam.
"Incorporando" o método socrático, deveríamos estar questionando os
espíritas que pensam: "O que é o sexo?" E não vale a breve
resposta: é um sistema orgânico que permite a reprodução das espécies.
Não só é uma resposta óbvia, como simplista e incompleta, Senão vejamos,
rapidamente: sendo o sexo apenas para perpetuação da espécie, porque muitos
animais, em estado de natureza, praticam o homossexualismo, que não atende ‘a
finalidade instintiva da reprodução?
Estudando a Codificação e as obras espíritas, psicografadas ou não,
tidas como adequadas, por causa dos médiuns e espíritos que as assinam, não
consegui, até o momento, fazer uma idéia clara do que, em última analise,
seja "sexo". Praticá-lo é uma coisa, saber o que realmente é,
outra.
No Livro dos Espíritos, a única abordagem direta sobre o assunto, é a
seguinte: "Os Espíritos tem sexos? 'Não como vós o entendeis, porque os
sexos dependem da organização. Existe entre eles amor e simpatia, porém
fundados sobre a similitude dos sentimentos'") (Livro dos Espíritos,
Fundação Lar Harmonia, 2007, questão 200).
Em francês, o termo "organisation" tem os mesmo significados
que em português e, também, o "organismo", sendo que, hoje em dia,
neste sentido, é empregado, como em português, com um complemento
aclamatório: "organização física, corporal, orgânica" etc.). Pela
resposta, os espíritos estariam destituídos de sexo, no sentido biológico, isto
é, não possuiriam aparelho reprodutor, logo, também não teriam hormônios
sexuais em sua estrutura, mas sim uma outra forma de manifestação (não
como o entendeis ou seja, diferente daquilo que temos e sabemos). E,
pelo que se sabe do mundo espiritual, não poderiam tê-lo, pois seria,
enquanto órgão, desnecessário, pois não se reproduziriam (aplicando-se o
critério de universalidade dos ensinos dos espíritos ao assunto, não existe
um coeficiente expressivo de mensagens que revelem a ocorrências de
reprodução sexual entre os espíritos. Uma afirmação de um espírito, através
de um médium, segundo Kardec, não constitui nem evidência, quanto mais prova.
Qualquer afirmação nesse sentido deveria trazer uma justificativa
pormenorizada sobre a questão, bem como uma real explicação do por que não
foi abordado até hoje por diversas outras mensagens espirituais). Ainda,
segundo a resposta, eles se vinculam no mundo espiritual por
"sentimento", por afinidade eletiva.
Fica, contudo, uma pergunta, sendo que o corpo é estruturado e mantido
pela organização perispiritual, de onde vem o impulso que fixa, durante a
organogênese, a definição do gênero em sentido físico? Há que se buscar
respostas efetivas, e não "petitio principii" ou floreios verbais,
muito bonitos e emocionantes, mas sem significação concreta, tais como:
"almas passivas e almas ativas", pois ainda cabe perguntar: o
que são almas passivas, e porque o são, assim como as ativas. Como se vê,
uma resposta desse tipo é adiar o problema, e não solucioná-lo.
Freud concebeu o sexo, em ultima analise, como uma forma de energia, a libido.
Os teosofistas e hinduístas também se referem a uma energia sexual, própria
da alma que, a semelhança da libido, poderia ser "sublimada", ou
seja, transferida para outro tipo de atividade do individuo (o que a
Psicologia Analítica contesta, porque faz da libido energia própria do
psiquismo e não do sexo em particular). André Luiz descreve o sexo como uma
manifestação de uma energia específica: o amor, pelo qual os seres se
alimentam uns aos outros. Então, dever-se-ia entender que os espíritos, nas
Obras Básicas, ao falarem de "amor e simpatia", estariam querendo
dizer que a libido é uma energia da alma como um todo? Porém, permanece a questão, o
que é o sexo? O que faz ele se diferenciar, quando a alma encarna? Uma
especulação: será que essa definição é uma prerrogativa genética? Isto é,
será que a fusão dos gametas masculinos e femininos, em condições normais,
estabelece, aleatoriamente ou segundo um impulso do inconsciente do
reencarnante, o seu gênero orgânico? Como disse, essas considerações são
meramente especulativas.
É necessário, portanto, que, a partir de princípios solidamente
estabelecidos, se possa discutir, não só o homossexualismo, mas todas as
formas de manifestação da sexualidade, sem pré-conceitos nem
hipocrisia, como atualmente acontece me larga escala no movimento espírita.
Inclusive tem de se abordar, com mais profundidade, a prática sexual
de forma geral. E não falo apenas de perversões ou sexolatria, mas sim da
"normalidade" da prática sexual. Porque, senão, estaremos a dividir
o mundo entre os certos (aqueles que praticam o sexo normal) e os
errados (os que se permitem variações diversas durante a prática), o
que é um preconceito absurdo. E o que é "normal", na prática
sexual? Existirá um "check list" de atos, atitudes, palavras e
pensamentos que podem, ou não, serem realizados durante o ato sexual? É dito
que o instinto é uma inteligência que mais acerta do que a volição, ora, o
que muitos chamam de desvios morais na prática sexual é
moeda corrente no mundo animal. E agora? Não se venha que o argumento de que
não somos animais, porque o somos. O sexo entre parceiros sem compromisso
matrimonial é certo ou não? Para mim essa é uma pergunta retórica, pois os
costumes já estabeleceram essa prática como socialmente normal, desde a
revolução sexual que a pílula anticoncepcional provocou. Isto sem referência
ao adultério, que, eticamente significa uma deslealdade entre parceiros
comprometidos. Ora, com tantas coisas a serem resolvidas, que dizem respeito
à vivência sexual, espero que os que vivem a "ditar cátedra" quanto
a homossexualidade, já tenham resolvido estas "simples" questões em
suas vidas.
De minha parte, posso dizer que ainda estou meditando sobre elas, e
buscando respostas, e isto sem enfrentar a angustiante problemática da
homossexualidade, que os preconceitos estigmatizam de forma cruel, e no caso
do Movimento Espírita, em atentado à Lei do Amor e Caridade.
Escrito por Djalma Argollo às 09h18
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Pense nisso, o que é sexo
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