Parábola das duas árvores

As duas árvores vergavam-se ao sabor do vento. Chirliante e gracioso pássaro assentava-se nos galhos mais altos da copa,  de lá  desprende e deposita minúsculos polenizadores que transportava em suas penas. Tocando incansavelmente as flores pequenas, introduzindo o pólen reprodutor.
Quando iria repetir o procedimento na outra árvore, a mesma em tom enérgico bradou: - Eu não necessito do teu pólen! Pois, não desejo tornar-me uma serviçal. Espero, isto sim, com minha robustez ser utilizada em peça digna de admiração. - aguardo o momento de mãos hábeis me transformarem  em requintado entalhe da nobreza.  Poderia ser uma liteira, ou quem sabe, rica  cadeira de algum Príncipe, ou talvez invejado carro que transportaria sua realeza em festas monumentais. E num suspiro concluiu: - É para isso que me  reservo e cuido com tanto desvelo do meu tronco.
Aproveitando uma lufada maior do vento sacudia as folhas para afastar o irrequieto polenizador
A outra árvore, que tudo ouvira conformada, humilde retrucou: -  Deus, se aqui me colocas-te  através do pássaro, e me reservas-te a tarefa de servir meus frutos, que eles sejam saborosos e saturados de nutrientes, e que minha sombra possa ser o descanso do viajante cansado.
No dia seguinte, machado as costas, o lenhador examina as árvores e num gesto de aprovação resmunga: - É essa aqui! Belo tronco, será utilizado para ser o carro do Príncipe.
Um brilho de alegria aflorou na seiva da árvore ante a primeira machadada.
Meses depois...
Gemendo em característico zumbido, lentamente, para o carro de boi, desce o condutor e exclama: - Amigo, bom-dia, bela árvore que estás a cercar. - É amigo, está árvore, batendo-lhe carinhosamente ao tronco, é uma dádiva de Deus, ela me dá frutos saborosos, dos quais me alimento, e é tão farta sua produção que ainda os distribuo aos necessitados, de suas folhas medicinais confecciono o remédio para os mais variados males, e quando estou cansado é aqui em sua sombra que venho repousar.- Diante do que falas fostes  afortunado...e subindo ao carro de boi, gritou: - Caminha, vamos, puxe firme Príncipe..e o carro começou a andar, e de sua madeira desprendia-se agoniado lamento, como um gemido dolente, era como se chorasse ante a lembrança de antiga conversa com a outra árvore.
Meu irmão em Jesus seja aonde for que  Deus te colocou, compreende tuas possibilidades de ser útil, não  importa, se és plebeu ou fidalgo, esforça-te em servir, pois deste lado, muitos fidalgos são plebeus e muitos plebeus são fidalgos.  

Grupo Lauro    
(Fabiano - 1.980)

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