Os inimigos estão "condenados" a serem amigos para sempre

Há no frescor da juventude o mel da alegria de se encontrar o amor. Busca-se o amor na companheira ou companheiro que nossa alma,  destarte a nossa vaidade, pulsa e esse pulsar, na maioria das vezes, nos vedam a razão e, em nome do amor que buscamos na Terra, enveredamos por caminhos difíceis de caminhar... e caminhamos e nos deparamos com o tempo, com a infelicidade, com a decepção, a dor e acabamos nos embocando nos poços profundos do ódio. E esse ódio reverberá quiçá por longos e longos tempos, fazendo-nos esquecer das palavras sublimes de nosso Senhor Jesus Cristo: “Amai-vos uns aos outros”.
E  foi através desse esquecimento que me vi envolvida numa de minhas jornadas terrenas, em triste passagem que até hoje, quando as recordo, sinto as cicatrizes chagosas a arderem nas profundezas dos sentimentos. E nessa vibração aguda relato, com a permissão dos amigos espirituais, que permitiram, a título de aprendizado, a minha simples e despretensiosa narrativa. (Norma de Cássia Angélica)

Nota: Em razão do espaço reservado para o blog, apresentamos, a seguir, um resumo da narrativa de Norma, desencarnada em 1942):   

Era o ano  de 1942. Filha de pais bondosos e zelosos, com 18 primaveras, Norma de Cássia Angélica residia na cidade das Hortências. A jovem iria se casar. No caminho para a igrejinha, a jovem admirava o seu vestido tão branco e rendado que o pai mandara confeccionar no Rio de Janeiro e as flores em forma de tiara que adornavam os seus cabelos. O coração da jovem batia descompassadamente até a chegada do altar nupcial. O noivo, porém, ainda não havia chegado. A jovem Norma olhava todos no salão da igreja e via olhares de comiseração e piedade. Após algum tempo, a plenos pulmões, gritou: Fernando!!!
Sentiu a presença de seu pai e ouviu as palavras que lhe pareceram açoites: “Ele não veio – já estamos à sua espera há duas horas. Ele não vem, você tem que ter coragem.” Ali, a jovem  Norma perdeu os sentidos.
Acordou na simples e modesta casa, ao redor de amigos a consolá-la. Após longo silêncio, um choro convulsivo e amargo aflorou no seu semblante. E a voz da profecia amarga saltou de seus lábios: “Deus, em teu nome juro a minha vingança, a dor que senti nada irá apagar. Fernando, um dia qualquer nos encontraremos e aí você verá o peso do meu ódio.” Lentamente, a jovem foi arrancando as flores que enfileiravam a sua tiara, amassando-as e projetando-as com raiva. Somente o vestido foi poupado.
Alguns dias depois, a jovem, amargurada, soube que no dia em que havia sido deixada no altar um respeitável senhor havia sido cruelmente assassinado, mas a polícia não conseguira prender o assassino. Condoída, a jovem foi visitar a família, vítima da brutal tragédia.
Ao chegar  a casa, a jovem se deparou com um rapaz e uma senhora cujas faces eram só tristeza. O rapaz, cheio de rancor, disse: “O maldito vai me pagar. Vou matá-lo. Irei encontrá-lo um dia.”
E assim, alimentando-se de ódio e da cólera, os jovens Norma e Arnaldo  passaram a tarde recordando os infortúnios que os havia atingido e a amizade entre eles ficava fortalecida e aumentava o ódio que não os permitia esquecer.
Um dia, Norma recebeu uma carta de Fernando, que tentava explicar e reparar a falta cometida no dia do casamento. Nessa carta, Fernando confessa à Norma que não foi ao casamento porque havia matado um homem, fato que o obrigou a fugir. Deu seu endereço à Norma e pediu que lhe encontrasse, no estado de Goiás.
No dia seguinte, Norma conta a Arnaldo o ocorrido e lhe confessa que o assassino de seu pai era seu noivo Fernando. Ambos decidiram embarcar para Goiás, em busca da vingança. Norma preparou-se para viagem e na sua bagagem levava a mortífera arma do ódio.
Chegando ao local do encontro, Norma deixou se abraçar por Fernando e lentamente o dirigiu até a cama. Nesse momento, deu-lhe um empurrão e bradou entre lágrimas: “Miserável, sabe o que você me fez passar? Não, você não sabe...” e esbofeteou-lhe o rosto.
Fernando partiu em direção à Norma, quando Arnaldo entrou empunhando um revólver  e disse: “Para trás canalha, hoje é o teu dia. Eu me chamo o teu fim, sou o filho do Ribeiro que você matou.”
Fernando empalideceu e compreendeu a armadilha que Norma lhe havia armado.
Houve um primeiro estampido, no segundo Fernando cambaleou e caiu de bruços sobre a cama. Aquietou-se por algum tempo, mas repentinamente virou-se com uma arma na mão e dispara. A bala acerta em cheio Arnaldo no coração e Norma, ao tentar correr, sentiu o metal quente entrar em suas têmporas. O silêncio agora era brutal.
Norma tentou se levantar e fugir. Os dois continuaram uma violenta luta corporal até que todos, extenuados, se sentaram ofegantes...
De repente uma claridade imensa tomou conta do quarto e adentrou uma figura maravilhosamente linda. Só poderia ser “Jesus” – pensou Norma, era como sua mãe descrevera. A figura os olhou com compaixão e disse: “Filhos, que fizestes da vida que teu Pai lhes deu? Vocês nasceram para se amarem... o que vocês fizeram? Preparem-se para novo recomeço, pois renascereis daqui a alguns anos. Norma como esposa de Arnaldo e desse casamento nascerá um filho, Fernando. Talvez aí vocês compreenderão que a vida é, acima de tudo, perdão.”
Quando a figura estava se retirando, Norma, em pranto, lhe perguntou: “quem és”? Virando-se sereno e calmo, espalmou as mãos e exclamou: “Em verdade, em verdade vos digo, Amai-vos uns aos outros, como eu vos amo.”
O quarto ficou numa penumbra assustadora e os três começaram a chorar, com medo, medo da escuridão que haviam se envolvido.
"Juvenal, ô Juvenal, chama o rabecão".  – Essas foram as últimas palavras que Norma ouviu.   

“Talvez alguns achem minha história um tanto inverossímel, mas ouçam: perdoem, perdoem, pois um dia, de uma forma ou de outra, todos irão debutar.
Perdoai, perdoai enquanto há tempo... perdão, pois os inimigos estão “condenados” a serem amigos para sempre”.
Norma de Cássia Angélica, desencarnada em 1942, a espera de reencarnar para, com Jesus, exercitar o perdão.

Nota: Essa narativa foi recebida pelo médium D.A.N, em 1994, e encenada a peça teatral, em abril do mesmo ano, pelos integrantes da MIL – Mocidade Irmão Lauro. Até hoje não se tem notícias se Norma, Arnaldo e Fernando tenham reencarnado.
                      

Um comentário:

  1. Relato do Espírito Norma, recebido pelo médium Dan.Relato transformado em peça de teatro apresentada no Grupo Lauro. (não me recordo a data)

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