Reunião da noite de 5 de julho de 1956.
Para surpresa nossa, quem nos brindou com
a sua visita, ao final de nossas tarefas, foi o Irmão X, que pela primeira vez
falou em nosso recinto, insuflando-nos vigorosa emoção.
De passagem por nosso templo, trago-vos à
meditação um apólogo simples.
Convencido de que somente através do
próprio trabalho conseguiria entesourar as bênçãos de seu Divino Criador, o
Homem compareceu diante do Altíssimo e rogou humildemente:
Pai, aspiro a conquistar a vossa grandeza
infinita... Que fazer para penetrar os domínios da vossa glória?
O Todo-Compassivo louvou-lhe os propósitos
e determinou:
– Desce à Terra e convive com os teus
irmãos.
O Homem nasceu e renasceu, muitas vezes,
adquirindo experiência em diversas nações, e voltou ao Paraíso, ostentando na
fronte a auréola da Cultura.
Não contente, entretanto, pediu ao Soberano
da Vida:
Pai, anseio conhecer-vos a força... Como
proceder para atingir semelhante graça?
O Todo-Bondoso afagou-lhe a alma inquieta
e ordenou:
– Desce à Terra e dirige os teus irmãos.
O Homem nasceu e renasceu, muitas e muitas
vezes, fazendo leis e gastando fortunas, construindo fronteiras e levantando
monumentos religiosos, plasmando a beneficência e disciplinando as sociedades,
brandindo armas e desfraldando bandeiras, mandando e comandando, fascinado
pelos poderes e pelos bens da Terra, como se os bens e os poderes da Terra lhe
pertencessem, e retornou ao Lar Eterno, guardando nas mãos o cetro da Autoridade.
Não contente, todavia, suplicou ao Senhor
Supremo:
– Pai, suspiro por aprender convosco a
criar emoções sublimes... Como agir para entender a vossa beleza augusta?
O Todo-Sábio contemplou-o, benevolente, e
aconselhou:
– Desce à Terra e procura formar
pensamentos iluminados e nobres para consolo e progresso de teus irmãos.
O Homem nasceu e renasceu, muitas e muitas
vezes, trabalhando a pedra e o metal, a madeira e a argila, a palavra e o som,
o pincel e a rima, e retornou à Luz das Luzes, transportando nos olhos e nos
ouvidos, na língua e nos dedos a magia da Arte.
Contudo, não satisfeito ainda, rojou-se
aos pés do Senhor e pediu em lágrimas:
– Meu Pai, tenha saudades de vosso
convívio... Não quero apartar-me de vosso olhar! Que fazer para demorar-me nos
Céus?
O Todo-Misericordioso abraçou-o com
ternura e ajuntou:
– Ah! meu filho, que pedes tu agora? Para,
que te detenhas no Céu é necessário desças à Terra e ajudes a teus irmãos.
E o Homem nasceu e renasceu, por longos e
longos séculos, sofrendo, sem reclamar, injúrias e ultrajes, lapidações e
calúnias, miséria e abandono, chagas e açoites, procurando auxiliar os outros
sem cogitar do auxílio a si mesmo, até que, um dia, terrìvelmente fatigado e
sozinho, mas de coração alegre e consciência tranqüila, retornou aos Eternos
Tabernáculos.
Não precisou, no entanto, anunciar a sua
presença, porque as Portas Celestiais se lhe descerraram ditosas.
Flores inclinaram-se-lhe à passagem.
Constelações saudavam-no em regozijo.
Anjos cantavam, em surdina, celebrando-lhe
o triunfo.
E o próprio Senhor, na carruagem
resplendente de sua Glória, veio recebê-lo nos Pórticos Sagrados, exclamando,
de braços abertos:
- Bem-aventurado sejas, filho meu!...
Agora a Criação inteira é tua... Todos os meus segredos te pertencem. E,
estejas onde estiveres, viveremos juntos para sempre.
Esmagado de júbilo, em riso e pranto, o
Homem compreendeu, sem palavras, que a felicidade do amor puro lhe fluía
sublime dos refolhos do ser, em torrentes de alegria misteriosa...
É que ele trazia, fulgente no coração, a
Estrela Divina da Humildade.
Desde então, pôde habitar na Casa do
Senhor por longos dias...
Irmão X
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