Muitas Instituições Espíritas mantêm práticas e/ou
discussões estéreis em torno de assuntos como: “crianças índigos”, “Chico é ou
não é Kardec?”, “ubandismos”, “ramatisismos”, “apometria”, “cromoterapias”,
“militância na política partidária”, “desobsessão por corrente magnética (com
direito a choques anímicos)" e tantos outros inusitados "ismos"
e "pias". Alguns confrades creêm que a apometria vai revolucionar o
universo da "cura espiritual". Pasmem! Ora, quem estuda com seriedade
os livros de Kardec sabe que a cura das obsessões não se consegue com o toque
de mágica apométrica.
Sabemos que foi descomunal o esforço de Allan
Kardec para legar à humanidade uma doutrina imune a esses atavismos, vícios
religiosos e dogmas de toda natureza. Todavia, como as pessoas são pouco
entusiasmadas para o estudo metódico e sério, inventam e impõem práticas
bizarras, evocam os “benzedeiros do além” para que venham completar esse vácuo
causado pala ausência absoluta de bom senso.
Estamos fazendo, no Brasil, um Espiritismo à moda
brasileira. Os centros espíritas praticam um “Espiritismo à moda da casa” (para
todos os gostos). Há confrades que insistem em usar trajes especiais nas
instituições. Porém, sabemos que o Espiritismo não adota indumentárias
especiais, nem enfeites, amuletos, colares, vestes brancas (“significando o
bem”) ou vestimentas pretas ou vermelhas (“significando o mal”). Os
trabalhadores cônscios da realidade Espírita trajam roupas normais, de forma
simples, até porque a discrição deve fazer parte dos que trabalham para o
Cristo.
Há médiuns que se ajoelham diante de imagens
“sagradas” e de determinadas pessoas; mantêm-se genuflexos e beijam a mão dos
responsáveis pela Casa Espírita, como forma de reverenciá-los; benzem-se; fazem
sinais cabalísticos; e outros, por incrível que pareça, proferem palavras
esquisitas (mantras) para evocar os Espíritos. Isso é compreensível nos
terreiros, mas jamais numa casa de orientação espírita.
O misticismo, a mistificação, a mitificação de
entes do além e a introdução de práticas atávicas à doutrina têm se tornado
comuns para muitos desavisados “espíritas” que, pela leitura de obras
“mediúnicas” vazias de conteúdos dignificantes, perdem a capacidade de análise
dos fatos e evocam o posicionamento dos “desencarnados” para todas as
situações, deixando de ter uma opinião firme e lógica necessária, ou, como
diria o mestre Lionês, uma fé raciocinada!
Como se não bastasse tudo isso, encontramos os
idólatras, tais como os “divaldistas”, os “rauteixeiristas” e outros. As
pessoas estão endeusando esses companheiros justamente por desconhecerem como é
a programação espírita desde o século XIX. Alguns inclusive espelham-se de tal
maneira nesses oradores que copiam até o timbre, a forma de falar e os
trejeitos, sendo vergonhosamente materializados nas palestras públicas, cujos
temas também são plagiados. Pois é! Há palestrantes que promovem, das tribunas,
verdadeiros shows da própria imagem, mise-en-scène, esta também
protagonizada pelos ilustres diretores de instituições doutrinárias que não
abrem mão do uso do pomposo “Dr.” antes do nome.
A questão é: como evitar esses disparates? Como
agir, com tolerância cristã, ante os Centros mal orientados, com dirigentes
alienados, com médiuns obsidiados, com oradores “show-men”? Enfim, como
agir, diante dos cegos que querem guiar outros cegos?
Para os espíritas light (mornos bonzinhos) é
interessante a prática do "lavo as mãos" do "laissez
faire", "laissez aller", "laissez passer". Porém,
os Benfeitores espirituais são peremptórios e nos advertem que cabe a nós a
obrigação intransferível de SALVAGUARDAR os ensinamentos de Allan Kardec, pelo
exemplo diário do amor fraterno e pela coragem do diálogo elevado.
Os Centros que praticam as inócuas terapias ou
rituais aqui descritos têm liberdade para fazê-lo, porém não deveriam utilizar
o termo espírita nas suas diretrizes. O bom senso obriga que os seus estatutos
sejam modificados. Há aqueles que vão inventando “guias” para servirem de
embaixadores junto aos espíritos superiores para cuidarem dos seus interesses,
assim na terra como no além. Será que as peregrinações para lugares “sagrados”
como Uberaba, Salvador, Niterói, Paris etc, não se constituem, na essência,
como romarias, trazidas dos atavismos de outros credos?
Os Códigos Evangélicos nos impõem a obrigatória
fraternidade para com os confrades equivocados, o que não equivale a dizer que
devamos nos omitir quanto à oportuna admoestação, para que a Casa Espírita não
se transforme em usina de zumbis.
O que se percebe frente ao que está acontecendo é
que muitos “espíritas” estão tão escravizados a símbolos, mitos e fantasias
quanto os irmãos de outras crenças místicas. Faz-se necessário, então, que as
instituições kardecianas busquem uma melhora qualitativa no âmbito da
divulgação, assistência social e formação doutrinária, oferecendo tanto aos
principiantes quanto aos demais trabalhadores da instituição uma informação
segura, sustentada nas obras basilares sistematizadas por Allan Kardec, a fim
de que a Doutrina dos Espíritos possa seguir incólume, livre de sincretismos e
perigosíssimas promessas de cura, oferecendo placebos desobsessivos, sem o
respaldo dos Bons Espíritos.
Jorge Hessen
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