Há poucos dias, um reconhecido divulgador do Espiritismo,
utilizou-se das redes sociais para confessar que “não era mais espírita”.
Ouvimos suas razões pelo “you tube” e percebemos a sua ingenuidade, motivo pelo
qual deliberamos comentar seu ato. Todavia, antes de explanar sobre a
deserção do propagandista insurgente e “ex-espírita”, asseguramos que não
existe no dicionário kardequiano o termo “ex-espírita”. Até porque, uma
vez ESPÍRITA, jamais serão desintegrados os ensinos revelados pelos Espíritos
aos que foram racionalmente abrangidos. Portanto, os que se assumem
“ex-espíritas” jamais foram ESPÍRITAS.
Em Obras Póstumas
encontramos o artigo “Desertores”, nele aprendemos que “entre os ESPÍRITAS
convictos, não há deserções, na lídima acepção do termo, visto como aquele que
desertasse por motivo de interesse ou qualquer outro, nunca teria sido
sinceramente ESPÍRITA; pode, entretanto, haver desânimos. Pode dar-se que
a coragem e a perseverança fraqueiem diante de uma decepção, de uma ambição
frustrada, de uma preeminência não alcançada, de uma ferida no amor-próprio, de
uma prova difícil.” [1]
Se alguns “ex-espíritas”
desertaram, aniquilando o ideal, admitindo extinguir a chama da Doutrina dos
Espíritos sob qualquer pretexto, segundo as contingências históricas, podemos
afiançar-lhes que o Espiritismo permanecerá despontando sucessivamente por meio
de diversos instrumentos de desenvolvimento e expansão. Isto quer dizer que o
Espiritismo prosseguirá sempre, conquanto alguns, às vezes, abandonem a luta ou
retrocedam, devido às conveniências particularíssimas.
Digam o que disserem, ou
façam o que fizerem ninguém será capaz de privar o Espiritismo do seu caráter
revelador, da sua filosofia racional e lógica, da sua moral consoladora e
regeneradora. Qualquer oposição é impotente contra a evidência, que
inevitavelmente triunfa pela força mesma das coisas.
Muitos antagonistas de
Kardec acreditavam que o Espiritismo se extinguiria por causa dos “espíritas”
que se envolviam em desordem, arrogância ou deserção, onde centros espíritas se
esvaziavam ou até fechavam as suas portas, entretanto os Espíritos não ficaram
imóveis ou ociosos, ao contrário, solucionaram de maneira objetiva, provocando
novos fenômenos e fatos transcendentes, a fim de manterem desperta as mentes
humanas sob a pujante luz do Consolador Prometido.
É óbvio que alguém que
verdadeiramente estuda e busca o aperfeiçoamento moral dentro dos ensinamentos
do Espiritismo jamais (nunca mesmo!) será mental, intelectual e
sentimentalmente a mesma pessoa. O Espiritismo não impõe nada, pelo
contrário, expõe! Se é certo que todas as grandes ideias contam apóstolos
fervorosos e dedicados, não menos certo é que mesmo as melhores dentre as
ideias têm seus desertores. O Espiritismo não podia escapar aos efeitos da
fraqueza humana.
Alguns “ex-espíritas”
por algum tempo pregaram a união, semeando a separação; habilmente
levantaram questões importunas e ferinas; despertaram o despeito da
preponderância entre os diferentes grupos. Em verdade, todas as doutrinas
têm tido seu Judas; o Espiritismo não poderia deixar de ter os seus e eles
ainda não lhe faltaram. Kardec chamava-os de “espíritas de contrabando”, mas
que também foram de alguma utilidade: ensinaram ao verdadeiro ESPÍRITA a
ser prudente circunspeto e a não se fiar nas aparências. Sem dúvida, podem os
tais “ex-espíritas” terem sido crentes, mas, sem contestação, foram crentes
egoístas, nos quais a fé racional não ateou o fogo sagrado do devotamento e da
abnegação.
Aos que lutam com
coragem e perseverança cujo devotamento é sincero e sem ideias preconcebidas os
Bons Espíritos protegem manifestamente. É verdade! Os Bons
Espíritos ajudam-nos a vencer os obstáculos e suavizam as provas que não
possamos evitar-lhes, ao passo que, não menos manifestamente, abandonam os que
desertam e sacrificam a causa da verdade às suas ambições pessoais e
mesquinhas.
Quem sabe possamos
também chamar de desertores os que pregam virtudes religiosas e sociais,
acolhendo-se em trincheiras de usura, os que levantam casas de socorro,
desviando recursos que deveriam ser aplicados para sanar as dores do próximo,
as mães que, sem motivo, emudecem as trompas da vida no santuário do próprio
corpo, embriagando-se de prazeres que vão estuar na loucura, os que passam as
horas censurando atitudes de outrem, olvidando os deveres que lhes competem os
que condenam e amaldiçoam, ao invés de compreender e abençoar, os que perderam
a simplicidade e precisam de uma torre de marfim para viver.
Quando perpetramos a
deserção voluntária dos nossos deveres, diante das leis que nos governam,
decerto que imprimimos determinadas deformidades no corpo espiritual.
Benfeitores da Vida Maior são unânimes em declarar que, em todas as ocasiões
nas quais sejamos impulsionados a desertar das experiências a que Deus nos
destinou na vida terrestre, devemos recorrer à oração, ao trabalho, aos métodos
de autodefesa e a todos os meios possíveis da reta consciência, em auxílio de
nossa fortaleza e tranquilidade, de modo a fugirmos do profundo poço da
irrealização pessoal.
Jorge Hessen
PS
Nenhum comentário:
Postar um comentário