A Terra é um mundo governado
por um Deus de amor e misericórdia, no qual todas as coisas concorrem para o
bem dos que se conformam com as com as Suas eternas leis.
A rigor, não existe a morte. A
vida futura é uma continuação da vida presente, como cada dia é a continuação
daquele que o precedeu. O sono a que chamamos morte, não é mais que um repouso
transitório, cujo despertar é, por certo, incomensuravelmente mais glorioso que
o alvorecer da aurora mais brilhante da Terra. Em todos os casos em que a vida
seja bem empregada, a mudança a que os homens costumam chamar-morte- é a última
e melhor graça que Deus as criaturas neste mundo.
A fase terrena da vida é uma
preparação essencial para a vida futura. Seus direitos peculiares e suas
necessidades não podem ser desprezados sem prejuízo da felicidade e do
desenvolvimento do homem, neste mundo e no outro. Mesmo seus gozos, aceitos com
moderação, são prelúdios da ventura de uma situação mais elevada.
A fase da vida que se segue à
transformação – morte é no seu rigoroso sentido, o complemento da precedente. Ela
apresenta a mesma variedade de distrações, deveres, gozos correspondentes,
dentro de certos limites, aos da terra, porém muito mais elevados, e seus
habitantes mostram a mesma variedade de caráter e inteligência, obedecendo, como
os homens daqui, à lei do progresso. Libertado dos liames corporais, sua vista
é mais extensa, suas percepções mais apuradas, seus conhecimentos espirituais
são maiores, seu critério mais esclarecido e seu progresso mais rápido que o
nosso. Muito mais lúcidos e desapaixonados que nós, eles são, contudo também falíveis;
governam-nos as mesmas leis gerais da natureza, porém modificadas pela sua
libertação corporal, o que não gozavam aqui.
Nossa
situação aqui determina nosso estado. As habituais sugestões, os impulsos dominantes,
os sentimentos ternos de toda a vida, em uma palavra, o amor espiritual ou o
poder do amor, decidem suas condições ao entrar no outro mundo e não os artigos
escritos do seu credo e os erros acidentais da vida.
Não conquistaremos o
céu, seja pela fé, seja pelas obras, nem seremos condenados ao inferno em determinado
dia de Juízo Final.
No outro mundo gravitaremos para a posição a
que fizemos jus na vida terrena; ocupá-la-emos, porque para ela nos preparamos.
Não há mudança
instantânea de caráter quando deixamos a presente fase da vida. Nossas virtudes,
nossos vícios, nossa inteligência, nossa ignorância, nossas aspirações, nossas
baixezas, nossos hábitos, propensões e, mesmo prejuízos, tudo isso segue
conosco, modificado sem dúvida, pelo fato do corpo espiritual emergir, despindo
seu invólucro material, contudo essencialmente o mesmo, quando a morte nos
chega.
Os sofrimentos ali,
natural consequência dos maus atos e pensamentos aqui, variam tanto de caráter e
gradação como os gozos; mas são mentais e não corporais. Deles ninguém escapa a
não ser somente, como na terra, pela porta do arrependimento. Ali, como aqui, o
desgosto por uma falta cometida e o desejo de uma vida corrigida são as
condições indispensáveis, prelúdio do adiantamento para um melhor estado de
coisas.
No outro mundo, o amor
é preferível ao que neste chamamos ciência. Ali, os atos de benevolência valem
muito mais que as profissões de fé; a simples bondade está acima do poder
intelectual; os humildes são exaltados; os mansos entram em sua herança; os
misericordiosos obtêm misericórdia. Os melhores habitantes daquele mundo são
caridosos com a fraqueza e compassivos com o pecado; perdoam os irmãos que
erram e nunca os abandonam, mesmo que pequem até setenta vezes sete vezes. Ali,
respeita-se o sentimento e não a pessoa; o amor próprio é censurado e o orgulho
é calcado.
A confiança e a
simplicidade são os estados da alma, em que os homens podem melhor receber as
benéficas impressões espirituais e a melhor preparação para aportarem ao outro
mundo.
Extraído de: Robert Dale Owen
- Te
debatable land between this world and the next-1877
Nenhum comentário:
Postar um comentário