"Não; receio que, arrancando o joio, arranqueis ao mesmo tempo o trigo. Deixai que um e outro cresçam juntos até a ceifa; quando chegar a ocasião de ceifar, direi aos ceifeiros: Arrancai primeiramente o joio e atai-o em feixes para ser queimado; o trigo empilhai-O no meu celeiro". - Jesus.
Nem todos os Espíritos se encontram no mesmo grau de desenvolvimento.
Dos encarnados na
Terra, uns são elevados, outros apenas iniciam suas provações morais. Vê-se daí
não ser cabível que, para operar-se a renovação de nossa geração espiritual, se
condenasse toda a geração material de que somos parte a perecer num dilúvio
semelhante ao de que falam os antigos. É evidente, pois, que tal dilúvio não se
deu com o caráter de universalidade que lhe atribuíram as narrações escriturísticas.
O joio cresce de par
com o bom grão. Depois, em cada colheita, aquele, para se depurar, é lançado ao
fogo da expiação, ao mesmo tempo que o bom grão é guardado nos celeiros do
Senhor.
Desde que saiu do
estado de fluidez, incandescente, a Terra tem passado por transformações
sucessivas, tem sofrido renovações parciais, para o efeito de preparação e
progresso graduais dos reinos mineral, vegetal e animal, mesmo do reino humano,
efeito a que de futuro hão de seguir-se, por outros meios, as depurações e transformações,
também graduais, dos aludidos reinos da Natureza.
Dizendo que o “pai de
família” não consentira que seus servos arrancassem, do campo que ele semeara,
o joio, com receio de que simultaneamente tirassem o trigo, quis o divino
Mestre refrear o zelo dos apóstolos e dos que lhes sucedessem como
continuadores da sua obra, os quais, levados pelo desejo de fazer progredir a
Humanidade, poderiam ir longe de mais. À força de quererem reprimir abusos,
poderiam chegar ao extremo de amedrontar os homens retos, porém simples, e de
os afastar.
Conviria não
perdessem de vista este ensinamento os que, nos tempos atuais, apregoando zelo
da pureza do Espiritismo, pregam a necessidade da extinção completa, por todos
os meios, dos centros onde ele é falseado e que representam o joio a crescer
entre o bom grão.
Não esqueçamos nós,
os espíritas, que foi invocando um zelo semelhante que a Igreja se tornou
perseguidora e abriu a interminável série dos seus atentados à liberdade de
pensamento e de crença, a todas as liberdades, afinal, atentados que cada dia
mais profundamente a divorciaram da doutrina cristã, do espírito dos
Evangelhos, para cuja interpretação ela acabou proclamando-se a única
habilitada, a fim de esconder aquele divórcio.
A lição que a
parábola do joio e do trigo encerra mostra que toda a ciência, para aquele que
se propõe a pregar as verdades eternas, a difundir as da Doutrina dos
Espíritos, a fim de que bem apreendidas sejam as daqueles mesmos Evangelhos,
está em apropriá-las às inteligências que as tenham de receber. Se não for
assim, um por exemplo, que teria aceitado a moral evangélica, se lha houveram
apresentado sob aspecto condizente com o seu ponto de vista (e por isso é que
Jesus a maior parte do tempo ensinava por parábolas e símiles), a repelirá, ou
ofuscado pela intensidade da luz que dela se irradia, ou atemorizado com as
grandes dificuldades que ela lhe deixa entrever.
A ceifa, de que fala
a parábola, se dá na ocasião em que o Espírito volta à sua condição de origem,
isto é, em que volta ao estado de Espírito liberto da matéria, por se haver
despojado do seu envoltório carnal. Ao retornarem a esse
estado, eles se
encontram, ou na condição de joio a ser queimado, o que se verifica pelo fogo
do remorso, das torturas morais, a que se segue a reencarnação neste mundo, ou
em mundos inferiores à Terra, de acordo com as tendências que revelam e com o
grau da sua culpabilidade; ou na condição de trigo, caso em que passam a
habitar mundos superiores ao nosso, onde continuarão a aperfeiçoar-se, a progredir.
Encarada assim, como
o deve ser, a ceifa tem sido feita sempre e ainda continuará por longo tempo.
Quando terminará? Quando chegar a época da ceifa definitiva. Com relação ao
nosso mundo, essa época será a em que não mais se permita ao joio crescer aqui
de envolta com o trigo, em que aquele será arrancado e lançado fora, isto é, em
que os Espíritos que se tenham conservado obstinadamente culposos e rebeldes se
verão compelidos a deixar de encarnar no planeta terreno, para o fazerem em
mundos colocados abaixo dele na escala dos orbes. A Terra, então, terá passado
a fazer parte do reino de Deus, o que quer dizer: ter-se-á tornado,
exclusivamente, morada de Espíritos bons.
Os ceifeiros, no
caso, são os Espíritos superiores, aos quais incumbe velar pelas expiações dos
Espíritos culpados, na erraticidade, e classificar os que, por terem bem
cumprido suas provas, mereçam ascender a mundos mais elevados do que o nosso.
Espírito Sayão
Grupo Lauro
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