Apreciando uma procissão, em
cidadezinha do interior, um sitiante comentou com o amigo ao lado:
– Óia a dona Josefa na
romaria! Cruz credo! Logo ela que recebe os Espíritos no Centro que a gente
frequenta!
Responde o amigo:
– Uai, quanto mais religião
mió, né?
Expressão incorreta, tanto
no sentido gramatical quanto literal. Se por apreço à linguagem coloquial
podemos dispensar a gramática, por respeito ao bom senso é preciso substituir
religião por religiosidade.
Religião demais, a
exprimir-se em frequência a um ou muitos cultos, pode ser falta de ocupação ou
fanatismo. O importante é a religiosidade, isto é, o empenho por colocar em
prática os princípios da religião.
Não fora a emulação, o
estímulo de que carecemos no atual estágio evolutivo, integrados num grupo
religioso, poderíamos até dispensar a busca de Deus nas igrejas. Espíritos
superiores já edificaram a Igreja Divina em seus corações, tendo por altar a
consciência, com o empenho permanente de renovação e esforço do Bem.
Nas bem-aventuranças do
Sermão da Montanha, promete Jesus (Mateus, 5:3-10):
Bem-aventurados os humildes,
porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados os que
choram, porque serão consolados.
Bem-aventurados os mansos,
porque herdarão a Terra.
Bem-aventurados os que têm
fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados os
misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados os que têm
limpo o coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados os
pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados os que
sofrem perseguição por amor à justiça, porque deles é o Reino de Deus.
Note amigo leitor, que,
significativamente, não há uma única linha, uma única palavra sugerindo que são
bem-aventurados os que frequentam os círculos religiosos. Há, sim, uma advertência
das mais severas no final do Sermão (Mateus, 7:21-23):
Nem todo o que me diz:
“Senhor, Senhor!” entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de
meu Pai, que está nos céus. Muitos me dirão naquele dia: “Senhor, Senhor, não
profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não expulsamos demônios? e em teu
nome não fizemos muitas maravilhas?”. E então lhes direi abertamente: “Nunca
vos conheci; apartai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade”.
São os religiosos sem
religiosidade. Negligenciaram o empenho de renovação, comprometendo-se em
deslizes não compatíveis com os princípios que esposavam.
Tomamos conhecimento nas
dissertações de André Luiz, série Nosso Lar, e em muitas outras obras,
particularmente O Céu e o Inferno, de Allan Kardec, da existência de multidões
de Espíritos atormentados e infelizes em regiões purgatórias, de grande
sofrimento. Em boa parte são religiosos enquadrados na advertência de Jesus
(Lucas, 12:47-48):
E o servo que soube a
vontade do seu senhor, e não se aprontou, nem fez conforme a sua vontade, será
castigado com muitos açoites. Mas o que a não soube, e fez coisas dignas de
açoites, com poucos açoites será castigado. E, a qualquer que muito for dado,
muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá.
Isto significa que nós
espíritas, muito mais do que adeptos de outras religiões, seremos cobrados
quanto ao empenho de renovação. Interessante observar um velho ditado espanhol:
Quando vires as barbas do vizinho ficar sem pelos, põe as tuas de molho.
Vendo tantos religiosos sem
religiosidade a queimar a barba nas labaredas umbralinas, é bom tomar cuidado com a nossa, cultivando a vivência dos princípios religiosos, não a mera
frequência às igrejas.
Richard Simonetti
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