Reunião de 11 de
março de 1954.
De posse da
gravadora, o “Grupo Meimei” iniciou o registro de instruções dos Amigos Espirituais,
por intermédio da mediunidade psicofônica de Francisco Cândido Xavier,
começando semelhante tarefa na noite de 11 de março de 1954.
Terminado o serviço
de esclarecimento e socorro aos irmãos transviados no sofrimento e na sombra,
que compareceram em grande número através de vários médiuns da casa, o
venerável benfeitor Adolfo Bezerra de Menezes incorporou-se, pronunciando a
alocução que se segue, alusiva à renúncia, como base de felicidade e paz,
dirigindo-se não apenas aos companheiros encarnados, mas, de modo particular, à
compacta assembleia de Espíritos conturbados que se comprimiam em expectação no
recinto.
Meus
amigos:
Rendamos
graças ao Nosso Pai Celestial, guardando boa-vontade para com os homens, nossos
irmãos.
Como de
outras vezes, achamo-nos juntos no santuário da prece...
Nossa
visita, contudo, não tem outro objetivo senão colaborar na renovação íntima que
nos é indispensável, a fim de que não estejamos malbaratando os recursos da fé
e os favores do tempo.
Volvendo
a vós outros, endereçamos igualmente a nossa mensagem a todos os companheiros que
nos escutam fora da carne, órfãos de luz, ao encalço da própria transformação
com o Divino
Mestre,
porque somente em Cristo é possível traçar o verdadeiro caminho da redenção.
Aprendamos
a ceder, recolhendo com Jesus a lição da renúncia, como ciência divina da paz.
Constantemente
nossa palavra se reporta à caridade e admitimos que caridade seja apenas alijar
o supérfluo de valores materiais da nossa vida.
Entretanto,
a caridade maior será sempre a da própria renunciação, que saiba ceder de si mesma
para que a liberdade, a alegria, a confiança, o otimismo e a fé no próximo não
sofram prejuízo de qualquer procedência.
Como
exercício incessante de autoburilamento, é imperioso ceder diariamente de
nossas opiniões, de nossos pontos de vista, de nossos preconceitos e de nossos
hábitos, se pretendemos realmente assimilar com Jesus a nossa reforma no
Evangelho.
Toda a
Natureza é escola nesse sentido.
Cedendo
de si própria, converte-se a madeira bruta em móvel de alto preço.
Abdicando
os prazeres da mocidade, o homem e a mulher alcançam do Senhor a graça do lar, em
favor dos filhinhos que lhes conduzirão a mensagem de amor e confiança ao
futuro.
Consumindo
as próprias forças, o Sol mantém a Terra e nos sustenta a vida com seus raios.
Meditai a
realidade (1), principalmente vós outros que já vos desenfaixastes do
envoltório físico! Cultivemos a renúncia aos haveres e afetos da retaguarda
humana, para que a morte se nos revele por vida imperecível, descortinando-nos
nova luz!...
Todos os
dias, volta o esplendor solar à experiência do homem, concitando-o a
aperfeiçoar-se, por dentro, pelo olvido de velhos fardos das impressões
negativas, que tantas vezes se nos cristalizam na mente, escravizando-nos à
ilusão...
E porque
vivemos desprevenidos, gastando a esmo as oportunidades de serviço, obtidas no mundo,
com o corpo denso, somos colhidos pela transição do túmulo, como pássaros
engaiolados na grade do próprio pensamento.
É
necessário esquecer para reviver.
É
imprescindível o desapego de todas as posses precárias da estação carnal de
luta, para que o incêndio das paixões não nos arraste às calamidades do
espírito, pelas quais se nos paralisa o anseio de progresso, em seculares
reparações!...
Não há
liberação da consciência, quando a consciência não se liberta.
Não há
cura para as nossas doenças da alma, quando nossa alma não se rende ao
impositivo de recuperar a si mesma!...
Saibamos,
assim, exercer a doce caridade de compreender as criaturas que nos cercam. Não somente
entendê-las, mas também ampará-las pelo desprendimento de nossos desejos,
percebendo que o bem do próximo, antes de tudo, é o nosso próprio bem.
Recordemos
que as Leis do Senhor se manifestam, em voz gritante, nas trombetas do tempo, conferindo
a cada coisa a sua função e a cada espírito o lugar que lhe é próprio.
Desse
modo, não nos adiantemos aos Celestes Desígnios, mas aprendamos a ceder, na convicção
de que a justiça é sempre a harmonia perfeita.
Atentos
ao culto do sacrifício pessoal sob as normas do Cristo, peçamos a Ele coragem
de usar o silêncio e a bondade, a paciência e o perdão incondicional, no
trabalho regenerador de nós mesmos, de vez que não podemos dispensar a energia
e a firmeza para nos afeiçoarmos a semelhantes virtudes que, em tantas
ocasiões, repontam entusiásticas de nossa boca, quando o nosso coração se
encontra longe delas.
Irradiemos
os recursos do amor, através de quantos nos cruzem a senda, para que a nossa atitude
se converta em testemunho do Cristo, distribuindo com os outros consolação e
esperança, serenidade e fé.
Imitemos
a semente humilde a desfazer-se no solo, aparentemente desamparada, aprendendo com
ela a desintegrar as teias pesadas e escuras que nos constringem a
individualidade eterna, a fim de que o nosso espírito desabroche no chão
sagrado da vida, em novas expressões de entendimento
e
trabalho.
Para
isso, não desdenhemos ceder.
E
supliquemos ao Eterno Benfeitor nos ajude a plasmar-lhe a Doutrina de Luz em
nossas próprias vidas, para que a nossa presença, onde quer que estejamos, seja
sempre uma fonte de reconforto e esperança, serviço e benevolência, exaltando
para aqueles que nos rodeiam o abençoado nome de Nosso Senhor Jesus-Cristo.
Bezerra de Menezes
Instruções psicofônicas – psicofonia por Chico Xavier
(1) Neste
tópico da mensagem, o Doutor Bezerra de Menezes dirigia-se, de modo particular,
aos desencarnados presentes. — Nota do organizador.
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