Palavras à Fonte



Palavras à Fonte para Jesus



Eu sou o granito que jaz,
silente e inerte,
na aridez da paisagem.   
Por sobre minha fronte rígida,
perpassa, indiferente,
e procissão intérmina dos milênios.   

Emergi na profundeza umbrosa dos evos,
quando a vida era apenas vaga esperança
bailando ao ar, á flor dos mares,
Desde então, tenho, sofrido o penoso labor.
das forças vivas do coração
que embalde, tentaram plasmar,
em minha face rugosa e triste,
a beleza fugaz das eras mortas.

Como no tempo em que a crosta planetária
Parecia repousar das convulsões telúricas
que me trouxeram á luz, ainda exibo,  
na aspereza de epiderme,
o estigma da agressividade.

Em vão supliquei às chuvas
Que me arrastassem para junto de ti.
Desejara estar postado a teus pés,
para receber sobre meu dorso adusto
a linfa criadora que flui de teu seio.
Assim, poderia, aos poucos, diluir-me
em tua essência divina e, contigo,
percorrer os infinitos ciclos da vida.

Mas, ai de mim!
achava-me profundamente incrustado no solo
qual um bólide atirado do fundo do cosmo.

Supliquei ao vento que me trouxesse,
como um rocio matinal,
a gaze vaporosa que desdobravas no ar,
mas, estavas tão longe, tão longe,
que mal podia vislumbrar-te
envolta no azul da distância.
Contentava-me, no entanto, com ouvir
teus rumores longínquos que me chegavam
através da misteriosa acústica da terra.

Tua voz canora vinha arrancar,
em minha rígida contextura,
estranhas ressonâncias.
Vibra-me todo, interiormente.
Mas, ó fonte amada,
Inutilmente busquei atualizar, diante de ti,
A beleza que em mim não passava ainda
de latência e virilidade.    

Romanelli

Dan 

Nenhum comentário:

Postar um comentário