Uma menina de seis anos, que
sofria de albinismo, foi encontrada morta e com seus membros cortados no
Burundi , na África. Eis aí um caso de assassinato, segundo autoridade policial
local, motivado por rituais de feitiçaria. Acredita-se que os órgãos das pessoas
com essa desordem genética são usados para fazer poções mágicas, a fim de
garantir a juventude, a riqueza e o poder às pessoas que nela creem. Estamos
diante da condição, extremamente, primitiva do ser humano que cultua tais
crenças.
Anja Ringgren Lovén,
ativista dinamarquesa, foi a responsável por salvar Hope, um garotinho africano
da Nigéria de dois anos que foi abandonado pela família sob o estigma de ser a
encarnação de um “bruxo” (médium!). Depois de passar oito meses morando na rua,
Hope foi resgatado por Ringgren e, aos poucos, recuperou-se de um avançado
estado de desnutrição. A dinamarquesa fez um magnífico serviço de socorro, sem
dúvida, mas analisemos a questão pelo ponto de vista do sortilégio tão temido
por diversas família africanas.
Na Idade Média, eram santos
e santas, quando se afinavam à cartilha religiosa da época, ou então,
feiticeiros e bruxas, recomendados à fogueira ou à forca, quando se não
ajustavam aos preconceitos do tempo em que nasceram. O Papa João XXII, em 1326,
autorizou a perseguição às bruxas sob o disfarce de heresia. O Concílio de
Basileia (1431-1449) apelava à supressão de todos os males que pareciam
arruinar a Igreja. Em 1484 o Papa Inocêncio VIII promulgou a bula Summis
desiderantes affectibus, confirmando a existência da bruxaria. No mesmo ano foi
lançado o livro Malleus Maleficarum, pelos inquisidores Heinrich Kraemer e
James Sprenger. Com 28 edições, esse volumoso manual se tornou uma espécie de
bíblia da caça às bruxas. Contudo, Benedict Capzov, um fanático luterano, foi
responsável pela morte de aproximadamente 20.000 “bruxas”, apoiando-se na “lei”
do Êxodo (22,18); “Não deixarás viver a feiticeira”.
No Brasil, no mês de outubro
de 1890, foi promulgado o Código Penal da República, que, maliciosamente,
associa a prática do Espiritismo aos rituais de magia e adivinhações. O texto
dizia o seguinte, no Artigo 157: “É crime praticar o Espiritismo, a magia e
seus sortilégios, usar de talismãs e cartomancia (…), inculcar curas de
moléstias (…) e subjugar a credulidade pública. Pena: prisão celular de 1 a 6
meses e multa de 100 a 500 $;. Os espíritas reclamaram com Campos Sales,
Ministro da Justiça da época, mas nada adiantou. O relator do Código, João
Batista Pinheiro, limitou-se a dizer que o texto se referia à prática do
“baixo” Espiritismo, como se existissem dois Espiritismos.
Na verdade, os republicanos
utilizaram os espíritas como bodes expiatórios para diminuir a oposição
católica ao novo regime, causada pelo desatrelamento entre a Igreja e o Estado.
Como consequência do Código, vários companheiros foram presos em 1891, no Rio
de Janeiro. Preocupado com possíveis focos de resistência ao regime, o Governo
autorizou a polícia a invadir reuniões e residências à procura de opositores.
Para evitar confusões, muitos centros decidiram fechar, temporariamente.
Paulo de Tarso escreveu aos
coríntios, “Acerca dos dons espirituais, não quero, irmãos, que sejais
ignorantes. Vós bem sabeis que éreis gentios, levados aos ídolos mudos,
conforme éreis guiados. Portanto, vos quero fazer compreender que ninguém que
fala pelo Espírito de Deus diz: Jesus é anátema, e ninguém pode dizer que Jesus
é o Senhor senão pelo Espírito Santo.
Ora, há diversidade de dons,
mas o Espírito é o mesmo. E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o
mesmo. E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em
todos. Mas a manifestação do Espírito é dada a cada um, para o que for útil.
Porque a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo
Espírito, a palavra da ciência; e a outro, a fé; e a outro, os dons de curar; e
a outro a operação de maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de
discernir os Espíritos; e a outro a variedade de línguas; e a outro, a
interpretação das línguas.” [1]
Atualmente há médiuns tido
como (“bruxos”!) de todos os matizes, em largas expressões, a saber:
psicógrafos, clarividentes, clariaudientes, curadores, poliglotas,
psicofônicos, materializadores, intuitivos etc. Paulo de Tarso foi admirável
médium de clarividência e clariaudiência, às portas de Damasco, ao ensejo de
seu encontro pessoal com Jesus. Todavia, não podemos esquecer que os subjugados
– os doentes mentais e os obsedados de todos os graus – que enxameavam a
estrada dos tempos apostólicos, eram também médiuns (“bruxos”!).
Jorge Hessen
Referência:
[1]
I Cor., 12:1 a 11
Nenhum comentário:
Postar um comentário