A Grande Lição

Na chamada última ceia, o derradeiro encontro com os discípulos, Jesus transmitiria importantes instruções ao colégio apostólico.
Pediu aos discípulos procurassem um homem que lhes cederia sua residência, em Jerusalém. Não se sabe quem foi. Certamente algum simpatizante. À tarde, compareceram todos, ao que parece sem a presença dos donos da casa, preservando a intimidade do grupo.
Os apóstolos viviam momentos de ansiosa expectativa.
Sabiam que algo importante estava para acontecer, mas não tinham a mínima ideia das tormentas que viriam, embora o Mestre deixasse bem claro que enfrentaria duros testemunhos, a culminarem com sua morte.
Após uma convivência de três anos, ainda não haviam assimilado a ideia do Reino de Deus como uma realização interior.
Imaginavam tratar-se de conquista puramente material. No momento oportuno, Jesus convenceria os incrédulos, submeteria os poderosos à sua vontade soberana e instalaria a nova ordem.
Passaram, desde logo, a tratar de um assunto que lhes parecia prioritário: qual deles seria o mais importante, o principal preposto?
Podemos imaginar a melancolia do Mestre, observando os companheiros. Não haviam entendido absolutamente nada.
Em dado instante, ergueu-se, tomou de um vaso d’água e passou a lavar os pés dos discípulos. A reação foi imediata. Absurdo aquele comportamento, próprio de escravos a serviço de seus senhores.
Simão Pedro perguntou:
– Senhor, por que me lavas os pés?
– O que faço, tu não sabes agora, mas saberás depois disso.
– Não, Senhor, não me lavarás os pés!
– Se não te lavar, não terás parte comigo!
– Então, Senhor, não só os pés, mas também as mãos e a cabeça.
Era bem o velho Simão, efusivo e exagerado.
Jesus lavou os pés de todos.
Depois, erguendo-se, falou:
– Vós me chamais de Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. E se eu, Senhor e Mestre, vos lavei os pés, assim deveis fazer uns aos outros…
O ensinamento é magistral, reafirmando a mensagem mais importante: para Deus o maior será sempre aquele que mais disposto estiver a servir, o que mais se dedique ao Bem.
Quando chegar a nossa hora, quando retornarmos à espiritualidade, ninguém nos perguntará por nossos títulos, patrimônios, cultura, conhecimento… Se fomos o presidente da república, um capitão de indústria, um artista famoso, um desportista vencedor ou mero trabalhador braçal.
As perguntas fundamentais serão:
Quantas dores aliviou?
Quanto consolo ofereceu?
Quanta fome mitigou?
Quanto amor disseminou?
Aqueles que exercitam essas iniciativas terão destaque no Céu, ainda que anônimos na Terra.

Richard Simonetti

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