Afluindo uma grande multidão e vindo ter com ele
gente de todas as cidades, disse Jesus em parábola:
“Saiu o semeador para semear a sua semente. E
quando semeava, uma parte caiu à beira do caminho; foi pisada, e as aves do Céu
a comeram. Outra caiu sobre a pedra; e tendo crescido, secou, porque não tinha
umidade. Outra caiu no meio dos espinhos; e com ela cresceram os espinhos, e
sufocaram-na. E outra caiu na boa terra, e, tendo crescido, deu fruto a cento
por um. Dizendo isto clamou: Quem tem ouvidos para ouvir, ouça”.
“Os seus discípulos perguntaram-lhe o que
significava esta parábola. Respondeu-lhes Jesus: A vós é dado conhecer os
mistérios do Reino de Deus, mas aos outros se lhes fala em parábolas, para que
vendo não vejam: e ouvindo não entendam”.
“O sentido da parábola é este:
A semente é a palavra de Deus. Os que estão à beira
do caminho são os que têm ouvido; então vem o diabo e tira a palavra dos seus
corações, para que não suceda que, crendo, sejam salvos. Os que estão sobre a
pedra são os que, depois de ouvirem, recebem a palavra com gozo; estes não têm
raiz e crêem por algum tempo, mas na hora da provação voltam atrás. A parte que
caiu entre os espinhos, estes são os que ouviram, e, indo seu caminho, são
sufocados pelos cuidados, riquezas e deleites da vida e o seu fruto não
amadurece. E a que caiu na boa terra, estes são os que, tendo ouvido a palavra
com coração reto e bom, a retêm e dão frutos com perseverança”.
(Mateus, XIII, 1-9 – Marcos, IV. 1-9 – Lucas, VIII, 4-15.)
(Mateus, XIII, 1-9 – Marcos, IV. 1-9 – Lucas, VIII, 4-15.)
A
Parábola do Semeador é a parábola das parábolas: sintetiza os caracteres
predominantes em todas as almas, ao mesmo tempo que nos ensina a distingui-las
pela boa ou má vontade com que recebem as novas espirituais.
Pelo
enredo do discurso vemos aqueles que, em face da palavra de Deus, são “beiras
do caminho” onde passam todas as idéias grandiosas como gentes nas estradas,
sem gravarem nenhuma delas; são “pedras” impenetráveis às novas idéias, aos
conhecimentos liberais; são “espinhos” que sufocam o crescimento de todas as
verdades, como essas plantas espinhosas que estiolam e matam os vegetais que
tentam crescer nas suas proximidades.
Mas
se assim acontece para o comum dos homens, como para a grande parte terra
improdutiva, que faz parte do nosso mundo, também se distingue, dentre todos,
uma plêiade de espíritos de boa vontade, que ouvem a palavra de Deus, põe-na
por obra, e dessa semente bendita resulta tão grande produção que se pode
contar a “cento por uma”.
De
maneira que a “semente” é a palavra de Deus, a lei do amor que abrange a
Religião e a Ciência, a Filosofia e a Moral, inclusive os “profetas” e se
resume no ditame cristão: “Adora a Deus e faze o bem até os teus próprios
inimigos”.
A
palavra de Deus, a “semente”, é uma só, quer dizer, é sempre a mesma que tem
sido apregoada em toda parte, desde que o homem se achou em condições de
recebê-la. E se ela não atua com a mesma eficácia em todos, deriva esse fato da
variedade e da desigualdade de Espíritos que existem na Terra; uns mais
adiantados, outros mais atrasados; uns propensos ao bem, à caridade, à
liberalidade, à fraternidade; outros propensos ao mal, ao egoísmo, ao orgulho,
apegados aos bens terrenos, às diversões passageiras.
A
terra que recebe as sementes, representa o estado intelectual e moral de cada
um: “beira do caminho, pedregal, espinhal e terra boa”.
Acresce
ainda que nem todos os pregoeiros da palavra a apregoam tal como ela é, em sua
simplicidade e despida de formas enganosas. Uns revestem-na de tantos
mistérios, de tantos dogmas, de tanta retórica; ornam-na com tantas flores que,
embora a “palavra permaneça”, fica obscurecida, enclausurada na forma, sem que
lhe possa ver o fundo, o âmago, a essência!
Muitos
a pregam por interesse, como o “mercenário que semeia”; outros por vanglória,
e, grande parte, por egoísmo.
Nestes
casos não dissipam as trevas, mas aumentam-nas; não abrandam corações, mas
endurecem-nos; não anunciam a palavra, mas dela fazem um instrumento para
receber ouro ou glórias.
Para
pregar e ouvir a palavra, é preciso que não a rebaixemos, mas a coloquemos
acima de nós mesmos; porque aquele que despreza a palavra, anunciando-a ou
ouvindo-a, despreza o seu instituidor, e como disse ele: “Quem me despreza e
não recebe as minhas palavras, tem quem o julgue; a palavra que falei, esta o
julgará no último dia: Sermo, quem locutus sum, ille judicabit eum in novíssimo
dia”. (João, XII, 48.).
Que
belíssimo quadro apresenta-se às nossas vistas, quando, animados pelo
sentimento do bem e da nossa própria instrução espiritual, lemos, com atenção,
a Parábola do Semeador! À nossa frente desdobra-se vasto campo, onde aparece a
extraordinária figura do excelso semeador, o maior exemplificador do amor de
todas as idades, e aquele monumental sermão ressoa aos nossos ouvidos,
convidando-nos à prática das virtudes ativas, para o gozo das bem-aventuranças
eternas!
O
Espiritismo, Filosofia, Ciência e Religião, independente de todo e qualquer
sectarismo, é a doutrina que melhor nos põe a par de todos esses ditames,
porque ao lado dos salutares ensinos, faz realçar a sobrevivência humana, base
inamovível da crença real que aperfeiçoa, corrige e felicita!
Que
os seus adeptos, compenetrados dos deveres que assumiram, semelhantes ao
semeador, levem a todos os lares e plantem em todos os corações, a semente da
fé que salva, erguendo bem alto essa luz do Evangelho, escondida sob o alqueire
dos dogmas e dos falsos ensinos que tanto têm prejudicado a Humanidade!
Cairbar Schutel
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