A jovem britânica Sara Green tinha um amplo histórico de
problemas de saúde mental desde os 11 anos de idade. Ela gostava de escrever em
seu diário, relatando as dificuldades que enfrentava no dia a dia. Aos 17 anos
de idade, foi internada numa clínica psiquiátrica na Inglaterra para
tratamento, mas acabou suicidando-se por automutilação, numa das
unidades de tratamento especial.
Antes de ser internada, Sara foi vítima de bullying no
colégio. Em face disso, se autoflagelava para tentar aliviar sua
consternação. Cria que os colegas não a aceitavam na escola, que a odiavam pelo
que era, mas expunha que não se gostava também. Green não conseguia entender
como se deixou ser afetada nesse nível de anulação da autoestima.
Enquanto esteve internada, as automutilações se agravaram. O
caso de Sara não é único. Serviços de saúde mental, seja no Reino
Unido ou em outros países, têm demonstrado falhas ao lidar com
crianças e adolescentes portadoras de distúrbios mentais. Segundo a ONG
Inquest, somente na Inglaterra, desde 2010 nove jovens morreram durante
internações em clínicas de tratamento psiquiátrico.
Não trataremos as eventuais
falhas da clínica inglesa. Explanaremos rapidamente sobre os transtornos, as
automutilações ou autolesões. Tais ocorrências são associadas a um distúrbio
psicológico conhecido como Transtorno de Personalidade
Borderline (TPB), classificada pelo psicanalista Adolph Ster
como uma patologia entre a neurose e psicose que gera uma disfunção
no metabolismo cerebral, desintegrando o ego e gerando um sentimento
de perda desesperador.
A literatura específica anota que os sintomas (TPB) costumam
surgir durante a adolescência, permanecendo por aproximadamente uma década na
maioria dos casos. As pessoas acometidas desse transtorno sentem uma
necessidade enorme de autopunição pelos insucessos e frustrações pessoais na
vida cotidiana. Os pesquisadores acreditam que pode ter origem genética também
associada a fatores traumáticos durante a infância ou adolescência, como
possíveis abusos sexuais, negligências, separações e orfandade.
A pessoa acometida do Transtorno de Personalidade
Borderline (TPB) sente alívio emocional cada vez que se
machuca. Entre os frequentes ferimentos associados estão: esmurrar-se,
chicotear-se, enforcar-se por alguns instantes, morder-se, apertar ou
reabrir feridas, arrancar os cabelos, queimar-se, furar-se
propositalmente com objetos pontiagudos, beliscar-se, ingerir agentes
corrosivos e objetos, envenenar-se por overdose de remédios ou produtos
químicos (sem intenção de suicídio), bater com a cabeça na
parede, esmurrar superfícies duras.
O fato é que a ciência clássica não alcança elucidar
suficientemente as razoáveis causas dos distúrbios psicológicos e mentais. A
psiquiatria se mantém aprisionada aos limites do cérebro, fonte que, como nós
espiritas sabemos, não é a raiz essencial das patologias mentais, mas tão
somente a exteriorização do efeito da enfermidade.
Gostem ou não, aceitem ou não, em verdade, o Espiritismo abalou
as estruturas da ciência mecanicista vigente e trouxe uma insurreição no campo
das idéias materialistas, inovando as considerações religiosas e científicas. A
ideia da existência de um ente extra físico (Espírito) pôde elucidar a origem
de muitos enigmas patológicos da psiquê.
Nesse sentido, o Espiritismo avança muito mais ao
debater e analisar racionalmente a Lei da reencarnação, explicando a questão
dos vínculos de causas atuais e passadas das doenças. A Lei de causa e efeito
amplia o debate e auxilia a compreender, por exemplo, que a vida presente é
reflexo do que temos sido até hoje, incluindo aí as nossas experiências
pretéritas (reencarnações anteriores).
Os atuais quadros psicopatológicos devem ser analisados sob esse
prisma (causa e efeito), como reflexo dos distúrbios morais de vidas
anteriores, considerando sua manifestação de uma forma
invariavelmente dramática, trazendo sofrimento tanto para o doente como para a
família; daí concluir-se que realmente signifique repercussão de desvios
éticos das existências pregressas.
A partir do momento da concessão da reencarnação com todas as
fases, durante e após a concepção, o reencarnante imprime as suas
necessidades e heranças genéticas nas moléculas de DNA do novo corpo físico,
comprometendo ou até mesmo potencializando as funções dos neurotransmissores
cerebrais. As experiências de vidas anteriores do Espírito, portanto, são os
legados trazidos e construídos por si mesmo, plasmando-se-lhe o fadário. Se
houver sincero desejo de redimir-se das faltas, o mecanismo da Lei de
causa e efeito aplica-lhe o abrandamento correspondente aos ecos dos
deslizes morais que lhe pesam na economia moral.
Isso equivale a assegurar que o gérmen da doença
mental já estava registrado no perispírito do reencarnante. Da neurose mais
simples, passando pela demência, histeria, ansiedade
mórbida, esquizofrenia, a gênese é sempre espiritual. Destacando no
debate que a doença mental é expiação ou prova também para os pais que podem
ter sido coadjuvantes das culpas desses doentes.
Compreendemos que a cura integral dos quadros psicopatológicos é
muito difícil porque consta do plano reencarnatório do Espírito, mas a
dor, tanto do doente quanto da família, pode ser
suavizada se houver em mente nos envolvidos no drama a
certeza de que Deus não coloca fardos pesados em ombros frágeis.
Sob o ponto de vista espírita, a terapêutica no tratamento das
tragédias psicopatológicas (obsessivas ou não) é essencialmente
preventiva, pois o Espiritismo sugere a resignação ante às vicissitudes da vida
que poderiam causar o acirramento ou a atenuação da doença. O autoconhecimento,
a busca constante da reforma íntima e a transformação pessoal de cada envolvido
constituem meios eficazes de manter a saúde psíquica de todos, já que qualquer
um de nós pode ser doente em potencial.
Se atinarmos para a vida eterna, notaremos que sofremos hoje
tão somente uma fase diminuta e transitória da existência. Urge
reconhecer, por isso mesmo, que a cruz que transportamos, embora possa parecer
excessivamente pesada, pode ser perfeitamente carregada se mantivermos a força
moral e confiança na Providência Divina, e todo esforço será recompensado
consoante estabelece os Estatutos do Criador, em cujos códigos jamais
haverão espaços para dispositivos injustos.
Jorge Hessen
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