A Palavra

O Cristo e os seus discípulos procuraram a sombra de uma figueira para fugir do sol que os castigava na empoeirada estrada da Betânia. Os apóstolos olhavam os arredores em silêncio, como esmagados pela intensidade da luz do astro-rei.
         - Mestre, - disse João, levantando a cabeça cismadora – qual é a ação que mais nos leva ao mal?
         Jesus traçou com o bordão alguns caracteres na areia, e, com sua voz pura e harmoniosa, respondeu:
         - A Palavra!
         Os discípulos voltaram-se para o Rabi com interesse, que, depois de alguns instantes de silêncio, continuou:
         - É com a palavra mansa e sutil que os sedutores atraem suas vítimas; é com discursos inflamados e cheios de promessas que os demagogos enganam as massas; é em nome da justiça que os tiranos pregam a chacina; é em nome do meu Pai que são desencadeadas as perseguições religiosas; é ciciando nos cantos escusos que os caluniadores tecem a trama do seu ódio, e é, em geral, tendo a praga blasfêmia nas suas bocas imundas, que os mais perversos se chafurdam no charco do crime.
          O silêncio voltou à sombra da figueira. O Mestre, retomando o bordão, recomeçou a desenhar símbolos na areia.
         - Mestre, - tornou João, curioso – e qual é a ação que mais nos leva ao bem?
         Jesus, vagando o olhar pela paisagem inóspita, disse incisivo:
         - Ainda é a palavra. É pela palavra que se consolam os aflitos; é pela palavra que é mostrada a estrada do bem; é pela palavra que se transmitem os conhecimentos; é pela palavra que se obtém o retorno dos tranviados; é pela palavra que se perdoa e é pela palavra que falamos com o Pai Supremo através da prece.
Fez-se silêncio novamente, e, como a luz começasse a declinar e o caminho se perdia no além, o Rabi da Galiléia tomou o bordão e se foi com os discípulos para fazer uso da palavra, da palavra que educa, que enobrece, que eleva, que esclarece: a palavra do Evangelho!

Grupo Lauro

Nenhum comentário:

Postar um comentário