O Destino: Uma Construção Pessoal

A grande incógnita do ser humano é o seu próprio viver.  Por que nascemos, vivemos e morremos? Por que existem tantas disparidades entre os indivíduos? Por que as existências individuais, mesmo dentro de uma família, são de tal forma diversas umas das outras? Por que uns nascem em berço de ouro, enquanto outros numa enxerga? Porque uns nascem fortes e saudáveis, enquanto outros com deficiências? Enfim, porque uns vivem muito, outros um pouco, enquanto outros morrem antes de nascer?
Filosofias e religiões sempre buscaram responder a tais indagações, oferecendo teorias e crenças de diversos aspectos e qualidade. Todavia, o sucesso delas é sempre pontual, o que se pode ver pelo imenso espectro de escolas filosóficas e crenças religiosas. Até mesmo a Ciência, através de muitos dos seus corifeus, tem oferecerido respostas às preocupações do ser humano com seu fado, sem qualquer sucesso, inclusive porque, ao fazer isso, está agindo como um orangotango numa loja de artigos delicados e frágeis.
O Espiritismo, surgindo na metade do século XIX, tem uma qualidade importante, na resposta que oferece a essas questões. Primeiramente não foi fruto de uma revelação pessoal, nem de especulações filosóficas. Em pleno século em que a Ciência tornou-se o paradigma fundamental, a faculdade mediúnica saiu do anonimato das crendices supersticiosas, e se ofereceu ao pensamento científico para ser estudada e analisada. O grande mérito de Allan Kardec foi entender que o fenômeno era produzido por seres inteligentes, conquanto invisíveis. E, sem apresentar teorias a priori, deixou que o fenômeno se explicasse. E, daí, surgiu um corpo de doutrina, com base experimental e consequências filosóficas e morais.
Ao provar que a vida não termina no sepulcro, por não ser mero atributo do corpo, mas condição fundamental do espírito, demonstrou que o ser humano é composto de uma parte material, que tem um tempo limitado de ação, e de uma alma, perdurável, a qual é a verdadeira razão da existência. Como Anton van Leeuwenhoek, com seu microscópio, desvendou o mundo da vida infinitamente pequena, o Espiritismo abriu a cortina do mundo espiritual, mostrando que, como sempre acreditaram as religiões, existe uma dimensão invisível, que envolve e permeia o mundo material, para onde vão as almas dos que morreram. Em continuação, as próprias almas que alí vivem, explicaram que existe uma constante troca dialética entre os dois planos, pois as almas dos mortos voltam à Terra, em novos corpos, num processo de evolução e aprimoramento, semelhante ao que acontece com a evolução e aprimoramento biológico dos seres.
E, como a alma é o repositório das experiências vividas, ela gera em seu íntimo uma série de crenças, neuroses e complexos, os quais influenciam o seu modo de viver e suas condições existenciais toda vez que retorna ao mundo físico, bem como quando o deixa, para viver no mundo invisível de onde saiu.
O destino, portanto, é uma construção sistemática dos indivíduos, um reflexo de seus conflitos internos e externos. Seja no mundo espiritual ou no mundo material, a alma está sempre criando seus problemas e dificuldades pessoais, os quais terminam por se chocar com os mesmos processos dos outros seres humanos, principalmente do seu em torno, gerando um sem número de embates, sofrimentos e dificuldades sociais, que caracterizam o mundo onde vivemos. Existe somente um determinismo do qual o espírito não pode fugir: o de viver. A essa imposição podemos acrescentar outra: a inelutabilidade do progresso, pois, faça o que fizer, aja ou viva como queira, a alma progride sempre, podendo imfluenciar, apenas, na velocidade do seu progresso, e mais nada.
Como construção individual, o destino não é mero fruto de uma acaso cego, como querem alguns filósofos, nem imposição autoritária de deuses prepotentes, fiandeiras arbitrárias ou uma força impessoal, uma Moira insensível. Ele nasce das escolhas conscientes ou inconscientes que cada indivíduo faz, diante do meio em que nasceu e/ou vive.
Ora, à luz das descobertas espíritas, o "fado" pessoal é fruto de escolhas pessoais, e suas consequências, boas ou más, somente podem ser analisadas à luz da responsabilidade pessoal. Somos os únicos criadores e responsáveis pelo nosso destino. Assim, temos de praticar a norma nietzschiana do "amor fati", quer dizer, temos de amar o nosso destino, como escolha individual que é, e mudarmos nossos critérios de escolha diante das circusntâncias em que vivemos, não só para transformar as consequências que geraram o destino atual, mas para gerarmos um destino mais feliz e prenhe de possibilidades de desenvolvimento, com o mínimo possível de sofrimento.

Djalma Argollo 


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